sábado, dezembro 20, 2008

Natal, Natal, Natal!

Final de ano é sempre bacana, leve, momento de refletir e acreditar, acreditar e refletir. Alguns momentos são para acreditar, outros para refletir e, por fim, fazer tudo ao mesmo tempo.

Gosto do natal da crença, da fé e da verdade dos corações. Mesmo não tendo uma religião ao meu lado, mas tenho minhas crenças e verdades e minha fé nas pessoas, que fica maior e mais brilhante nessa época.

O incrédulo diria que isto é um engano. Que nada muda e a única coisa verdadeira é que fechamos os olhos para o feio e nos encantamos com as luzes e enfeites. É, pode ser, mas quem não precisa de férias?! Quem não MERECE umas férias do feio e do chato de vez em quando? Eu mereço e me dou!

É por isso que desejo um feliz natal para todas as pessoas num mundo bonito de luzes, passeio pelas ruas, compras no shopping, calor humano e bem estar em casa.

l
2009!
Que valha,
Que seja único,
Que seja o melhor,
Que a saudade se vá,
Que a paz esteja por perto,
Que a festança seja muito boa,
Que a família seja um porto seguro,
Que os amores sejam mais verdadeiros,
Que as frutas maduras sejam mais doces,
Que o bom trabalho diário traga muitos frutos,
Que sejam belas as paisagens, os cantos, as viagens,
Que todos os desejos se realizem no ano que vai nascer,
Natal,
Natal,
Natal!

quarta-feira, dezembro 03, 2008

O Fato

Quando a luz se apaga por inteiro e o mundo fecha mais uma porta, é preciso acreditar.

É necessário acreditar na conspiração do universo, na sabedoria do tempo e na bonança, que acolhe quem avaçou pela tempestade.

Uma porta fechada não é só uma saída perdida, mas a necessidade de mudança, de vencer medos antigos e encontrar novos medos que virão.

É a chance de acreditar que debaixo da tempestade surgirá mais brilho nas folhas, mais vida em toda essa árvore. Novos brotos e novas alegrias.

É sábio acreditar na vida.
É sábio questionar o passado para buscar um futuro brilhante.
É sábio crer na fortuna que assegura o amanhã.

O simples acordar e levantar-se com as próprias pernas, prover com os próprios braços e buscar com os próprios olhos todas as chances de seguir adiante.

Adiante até a próxima porta fechada que guarda mais sabedoria, mais experiência e mais coragem, simplesmente por estar fechada.

E essa porta será, assim, a chave para tantas outras portas que se abrirão.

Escócia

Quero conhecer a paz profunda que emana daquele vale tranqüilo de colinas verde-acinzentadas.

Sentir a chuva rala que estala nas folhas e ecoa nos campos floridos, pedindo ao terreno que não resista à passagem do tempo.

E da brisa viva de todo o tempo do mundo.

O solo das antigas tribos guerreiras de raízes celtas, fortes e sábias como as flautas artistas que pintam o verde e prata das matas, inundam os riachos subterrâneos e transbordam lagos profundos.

Dos amores esparramados pela grama dos campos floridos. Corações acidentados, que se regeneram sob a esperança do futuro.

Não a Escócia das cidades modernas, mas das toscas vilas de pedra, dos túmulos e jardins gramados, dos castelos soltos na paisagem como a morada de animais desgarrados.

Permitir me libertar dos bandos, de amores e vales, de amigos e familiares, para ser mais uma vez apenas um.

Ser paz profunda, brisa viva, chuva rala, guerreiro sábio, para inundar os riachos e transbordar rios que vivem em mim.

Viver o tempo de animal desgarrado num lugar que o tempo jamais mudará.

O Jogo

Eram apenas brinquedos para divertir.
O primeiro quebrado por que alguém assim o quis. O segundo também quebrou, mas foi sem querer, assim como acontece com tantos por aí.
E ninguém parou para pensar que eram apenas brinquedos e que foram usados para jogar com as vidas.
Pra quê isso?
É muita ignorância quando se passa dos dez anos. Ou mesmo quando se passam vinte e três...
É a fome da ignorância!
É só dor de criança.

sexta-feira, novembro 21, 2008

Meus 24 Anos

O que espero dos meus 24 anos.

Mais sonhos bons para contar, mais prioridade para o que me faz bem, mais saudade de quem tenho carinho, mais vontade de continuar acordando cedo, mais amor por quem me quer de verdade, mais paz com esse sujeito difícil que me tornei, mais amor pelas coisas simples, mais beijos debaixo da chuva, mais esporte para o corpo e para a mente, mais desafios no trabalho, mais respeito no amor, mais autoconhecimento, mais união comigo e com todos.

Menos tempo para não ficar preguiçoso, menos razão para entender que erros acontecem, menos cuidado para não ficar medroso, menos chances para precisar correr atrás, menos chão para voar mais alto, menos piedade, menos orgulho para entender melhor as coisas, menos desculpa para levar mais bronca, menos lágrima para levar a sério, menos pedido para atender mais.

É mais ou menos isso!

quarta-feira, novembro 19, 2008

O Barão Vermelho Contra o Esquadrão da Morte #2

Voava o barão pelos céus
Mais um dia claro cedia lugar à noite gelada
Era um dia de extremos, sem dúvida
Gelado, quente, claro e escuro
Um dia dual e um simples vôo de reconhecimento

Mas aquela noite reservou uma batalha sem limites
O Barão encostou seu Jeep frente ao tradicional bar do aeródromo
Nada o que comemorar, apenas um drinque num dia comum
Muito quente cedo, muito frio a tarde
Definitivamente dual

Notou então o Esquadrão da Morte num canto do bar
Bebiam quietos e, alheios ao mundo, jogavam seu baralho
Tomou seu copo e caminhou até o grupo
Parou em frente às pesadas roupas pretas e os brilhantes olhos que o fitavam

Podemos um jogo amigável, para variar?
Naquela noite as metralhadoras não incandesceram
Os assentos dos aviões não brilharam com o suor da batalha
Mas o Barão perdeu tudo, inclusive a razão.

domingo, novembro 16, 2008

Coisa Viva

As coisas devem ser vivas como os pensamentos. Devem ter o calor das almas apaixonadas, das súplicas de amor, ter o direito de mudar e mudar e mudar.

O verdadeiro amor está guardado, velado por nossos próprios corações dentro de jarros de fruta. E só a fruta madura é capaz de trazer à boca aquela sensação maior de satisfação do doce, do gozo eterno da substância da alma.

A maturidade vem com o tempo, o tempo todo, para carregar a bateria da sabedoria e encerrar de uma vez por todas todo tipo de violência, física, verbal, psicológica, moral...

E aí surge aquele amor antigo, ou um novo totalmente diferente. O amor que nos torna fortes em momentos bons e maus, amplia os sentidos e queima aos poucos um fogo mais brando, que não é capaz de machucar, mas que traz a luz e o conforto.

O amor próprio.

quarta-feira, setembro 24, 2008

Meio Perdido

Um astronauta passou por aqui, comeu um pedaço de bolo e se foi.

Eram duas da manhã e eu esperava no ponto, quando o ônibus passou reto.

Esqueci as roupas no varal, veio a chuva e molhou tudo! Então coloquei tudo para lavar... pela "terceira" vez...

O tubarão nadou por muito tempo procurando a saída do aquário redondo, depois de comer o peixe-piloto.

A mosca se lembrou de onde vinha, mas sua memória dura apenas três...

Ela caminhava pela estrada de tijolos amarelos, enquanto lia uma notícia que falava sobre a economia no mundo...

A meteorologia falou que hoje vai chover, mas no final de semana fará sol.

"Mas eis que chega a roda viva
E carrega o destino pra lá..."

quarta-feira, setembro 03, 2008

Que não cessa

Ao zero, nasci de dois
Do amor de mãe
Do abraço de pai
Aos dois cresci como um raio

Aos dez eram os sonhos
Ser piloto e astronauta
Viver num desenho animado
Brincar para sempre de ser rei

Dos quinze a força bruta
Os medos do sentimento
Do terrorismo emocional
A bomba de atitude e a dor de amor

Na locomotiva sem rumo dos vinte
Surgiram as respostas e as responsabilidades
As alegrias do amor novato, porém maduro
Os sonhos da vida em comum

Vinte e cinco chegam com esperança
Sucesso e rumo planejados sem grafite
Conquista de um mundo mais justo
Um mundo meu comigo mesmo, tolerante

O resto transborda pelos cantos
No prato raso das previsões
Quero ver mais erros e acertos
Menos reações tardias

Depois, a sabedoria que permite
Que deixa crer e compreender
A ampulheta do tempo que não cessa
Que gira essa cabeça tantos graus

Que não cessa
Não cessa
Jamais

quarta-feira, agosto 27, 2008

Ritmo Patético

Piuíííííííííííííííííí

Trabalho, almoço, casa
Trabalho, almoço, casa
Trabalho, almoço, casa
Trabalho, almoço, casa
Trabalho, almoço, casa

Dling, dling, dling, dling, dling

Estação final
de semana

Piuíííííííííííííííííí

Trabalho, almoço, casa
Trabalho, almoço, casa
Trabalho, almoço, casa
Trabalho, almoço, casa
Trabalho, almoço, casa

sexta-feira, agosto 22, 2008

A Correnteza da Chuva

As gotas da chuva baixam meus cabelos
Os pelos dos braços teimam em se arrepiar
Sinto cada passo dos pés calejados
E o couro do sapato que cerra tais pés cansados

Deixo a água escorrer nos olhos inchados
Com o peito cheio empurro o vento

Ensabôo os pensamentos o quanto posso
Iludindo em rimas e buscando mais tempo
Para que a correnteza da chuva leve consigo
O cansaço dos dias e do pensamento

segunda-feira, agosto 18, 2008

Esquece

De que adianta guardar coisas?
Colocar bons livros na caixa
A partitura na gaveta
Entardecer o dia mais cedo

Guardar é temporário
Guardar para sempre é esconder
E esconder é errado

As coisas devem ser vivas
Devem ter movimento
Caminhar nas mãos e no tempo

Quem esconde acha que guarda
E quem guarda esconde o tempo

sábado, agosto 16, 2008

Comédia Cotidiana

Esta semana peguei um ônibus para o trabalho e escutei esta conversa. Ao contrário do que minha mãe me ensinou...

Homem sentado no fundo do ônibus, falando ao celular:

- É... o Cesar disse que ia pagar essa semana...
- Sim, é bom! Afinal tenho que pagar a pensão...
- É isso ou tem que usar a pulseira de prata né!
- É... pulseira de prata, conhece... rárárárá.
- Eu sei meu amor, eu pago a pensão para ela mas eu te amo viu.
- ...Vou ser um bom pai sim, meu amor... se não for também vou pagar pensão para você, não fica com medo não, eu pago direitinho, você sabe!
- Eu sei, eu sei... também te amo viu!


Obrigado São Paulo por mais essa experiência!

quarta-feira, junho 11, 2008

Barulho

Ouvi um ruído rasgado na madrugada e pela janela lancei meu ouvido contra o vento.
Desci as escadas correndo do escuro enquanto comprimia os lábios e rosnava.
Balancei para os lados tentando tocar algo, tateando o ar e o pano molhado de suor.
Corri dos seres assustadores, desconhecendo o que me perseguia durante aquela noite.
Desesperado, a me debater, busquei salvação num esconderijo profundo.
Mas o ruído perseguia meus ouvidos e não pude mais suportar aquele pavor.
De um pulo me revelei de antes escondido e libertei toda a fúria do despertar.
Cambaleei ainda zonzo por me levantar tão depressa e de todo o susto que me afligia.
Pesadelo descabido!
Ainda bem, havia terminado.

sexta-feira, maio 30, 2008

Sucesso

O que é sucesso para você?

Questione-se a respeito agora mesmo.

Você tem sucesso na vida? Terá um dia?

Quais são os passos essenciais para ter sucesso?

Não tenho respostas.

Tenho dúvidas.

quarta-feira, maio 28, 2008

Declaração de amor

Escrita hoje de manhã à minha namorada:

"Se formos calcular o ROI do nosso namoro, o lucro sobrepõe com grande margem o investimento e as intempéries relacionadas às diversidades dos players envolvidos".

Ossos do ofício... c'est la vie!

sexta-feira, maio 02, 2008

Quando a chuva não é triste

Nesses dias de chuva, muito melancólicos, é comum deixar um pouco de lado a diversão e cultuar a preguiça, ficar em casa para descansar e saborear umas iguarias “engordativas” para variar.

Mas no dia de hoje a chuva não estava assim tão triste e preguiçosa.

Acordei cedo no feriado, peguei a mochila e desci o elevador rumo ao lar-doce-lar. Blusa de lã e jaqueta pesada para o frio. Fechei o zíper até a gola levantada, enganchei o iPod no ouvido e saí sob a chuva pesada até o ponto de ônibus.

Desci na Avenida Faria Lima cantarolando umas canções irlandesas que escutava, aproveitando para andar mais devagar, já que a chuva naquele momento era quase uma garoa.

Parei no Starbucks e pedi um Doce de Leite Latte gigante (500Ml!) para aquecer aquele frio medonho. Durante o preparo puxei um excelente papo com a dupla de atendentes dali, que são sempre muito bacanas. Conversamos por um bom tempo sobre o movimento da loja, nomes estranhos difíceis de escrever nos copos (o meu, no caso) e deixei meu cartão para a rede de networking do Starbucks. Sim! Querem fazer uma rede de networking com os clientes. Como Starbucks é para mim um símbolo de inovação, me prontifiquei a participar.

Saí sem cantarolar, mas ocupado com aquele café da manhã apetitoso.

Fiquei comigo até chegar em casa, uns 15 minutos depois, imaginando toda a sorte de pensamentos. Me diverti muito, descansei e progredi em relação a alguns problemas.

Foi bom esse tempo de chuva sem moleza. Agora espero até que o tempo abra com parcimônia, sem tanto entusiasmo, para ter mais um pouco dessa sorte. Para passar mais um tempo bom de chuva comigo.

Introspecção sem tristeza, só falta a gaita de foles!

terça-feira, abril 29, 2008

Virada Cultural

É impressionante ver tantos jovens cruzando a São João ao mesmo tempo. Pares de olhos buscando as informações no folheto, jogando conversa fora, fumando cigarros e bebendo vinho. Tudo bem passado, no meio da madrugada.

O primeiro impacto é visual e, para os olhos mais audazes, não termina no modo de vestir. Há também o jeito de caminhar, a expressão dos olhares que aprovam e reprovam das tribos urbanas.

Os ainda mais atentos percebem as tribos também por seus diferentes ruídos, a forma de se tocar e comunicar, o cheiro das roupas e dos perfumes leves ou pesados. É incrível para quem nota a mistura que não homogeneíza de jeito nenhum, mas que se aceita.

E a explosão cultural de todos os gostos, artistas de tantas épocas naquelas avenidas que nos fazem chorar, rir e dançar nas frases ambíguas. Refletem as ideologias e as estranhezas.
Tudo naquela multidão que causa pavor em alguns, mas que não oferece risco para a maioria. É sarcástica mas piedosa.

Mas o impressionante mesmo é deixar de lado os motivos e observar a naturalidade dos beijos, das danças dos pares, das rodas de conversa dos jovens e da noite que parece não acabar.

Esse foi um retrato pessoal da Virada Cultual em São Paulo, nos dias 26 e 27 de Abril.
Um retrato que será sempre branco e preto na leitura, por ser tão colorido na realidade.

segunda-feira, abril 21, 2008

Dos Pares

Pessoas importantes que passam
E ficam

Pessoas que nos apaixonam à primeira vista
E queremos bem

Todos que amamos e todos os dias
Que o tempo leva

E tudo o que a vida trouxe e se foi um dia
Valeu à pena

Que as dúvidas se tornam certezas
E as surpresas viram cinzas

Nascemos novamente nessa vida
Para morrer de saudades a cada dia.

sábado, abril 12, 2008

Hífen

É o vento bom que ousa, que enfrenta.
É a lua nova que surge veloz por entre as nuvens.
Todo o passado que avança sobre o dia de hoje.
A saudade que bate na porta de casa.

São dias quentes, tempo de luz.
E o calor das paixões que esse tempo seduz.

Quero mais que os amores que passam nos trens.
Das chuvas que jogam xadrês contra o chão.
Tenho saudades dos abraços amigos.
Dos sonhos e vertigens dos jovens ouvidos.

Quero mais dos bons tempos que agora vem surgindo.
O amor dos amores e da vida me agradam.

domingo, abril 06, 2008

Novo Blog

Amigos,

Gostei da brincadeira.
Então criei mais um Blog para esse mundinho velho sem porteira da Internet.

http://gestacaodenegocios.blogspot.com

Vocês podem imaginar o assunto pelo nome: Gestação de Negócios.
Isso mesmo! A idéia é colocar em xeque dúvidas, crenças e modelos do mundo empresarial.

Por isso, você que se interessa pode acessar o Blog agora e soltar o verbo!
Caso contrário fique por aqui, afinal o Colhendo Bons Ventos é bastante ciumento.

Abraços!

quarta-feira, abril 02, 2008

É Muito Ruim!

É muito ruim quando alguém não percebe
Não sente que machuca
Deixa de se importar com o que se passa

É muito ruim quando ignoram os sentimentos
Viram a página sem ler até o final
Jogam água no coração

É muito ruim quando deixam de se importar
Quando o orgulho grita aos quatro ventos
Chateia para não se chatear

É muito ruim
Quando é muito ruim
Não importa

segunda-feira, março 24, 2008

Modernidade

Recém-formado Relações Públicas;
Iniciado na carreira de comunicação, na área de eventos;
Entusiasta do marketing e suas vertentes;
Descobriu recentemente a atração pela administração;
Eterno amante das negociações;
Fervoroso leitor de matérias sobre gestão;
Esta é a resposta de quem já pensou em parar os estudos depois da faculdade.
No front quem não atira mais é por que já abandonou a guerra. Então, se não estiver de acordo as regras do seu mundo, revise-as.
Ele gira!

sábado, março 22, 2008

O Livro

Eram 27 saltos entre um andar e o outro. Ouviram-se os tiros desde o corredor.
O intrigante céu azul que cortava o horizonte parecia não combinar com a situação, enquanto o elevador panorâmico avançava.
Nada mais se ouvia.
O suor escorria da têmpora ao queixo, deixando a desagradável sensação de medo subjugar a leveza com que tentava segurar a arma.
Avançou pelas portas abertas, descobriu os cômodos e lançou a cabeça pela janela, procurando.
Foram oito minutos de tensão e pressa. Foram oito minutos de controle. Aos nove viu o buraco na parede, logo antes do corpo. No chão. Ajoelhou-se e chorou.
Sentiu então o perfume do ódio.
Gritou em pensamento.
Retornou ao elevador rumo ao solo firme, fechando as portas de outro sonho.

Nasceu assim o leitor de 19 anos em Santos, São Paulo, que decidiu nunca mais deixar os livros quando percebeu que sua imaginação poderia levá-lo tão longe.

quarta-feira, março 19, 2008

2001: Uma Odisséia no Espaço

Foi-se mais um representante da excelente safra da ficção-científica dos últimos tempos.
Sir Arthur Clarke conseguiu, em seus 90 anos e mais de 100 livros, reunir características difíceis de se encontrar nos cientistas: a didática popular e o tempo para dedicar-se à literatura.
Mais que um cientista-escritor, foi um professor tão especial quanto Isaac Asimov ou Júlio Verne para todos os leigos amantes da ficção-científica.
Para quem conheceu seu trabalho deixará saudades. Para quem não o conheceu, os livros ajudam a imortalizar seus valorosos conhecimentos.

Arthur C. Clarke – 16/12/1917 a 18/03/2008

terça-feira, março 18, 2008

Deus

Grisalho era o senhor do tempo
Estandarte da bandeira e do vento
Escreveu as partituras de todas as épocas
Assinou a certidão dos sentimentos

Assassino vil da solidão do Homem
Serpenteava entre a copa verde-vermelha
E quando o domo encerrou sobre sua mente
Chorou dez lágrimas e se pôs a caminhar

Abandonou sua vida mais sensata
Aprendeu tarde, finalmente, a suar
Do desterro nasceram longe as cidades
Profusões de versos que se somam ao cantar

E o velho tempo que apressou a eternidade
Nem mesmo assim arrependeu-se de tentar
Se para alguns mora distante e é perseguido
Para mim engraxa a mente e a faz girar.

segunda-feira, março 17, 2008

Portenho

São sete noites de frio
Sete longes de distância
Falta o quente das suas costas
Perco o cheiro da lembrança

Caras duras que me secam
Suando a roupa pesada e fria
Cortando as ruas européias
Desse mundo sul vindo da Espanha

E quanto mais o tempo pula corda
Mais corda o relógio ganha
Contando os minutos dos lençóis
Da saudade, do carinho e da lembrança.

quinta-feira, março 13, 2008

O Relato

Faço aqui um relato completo de um nada rotineiro acontecimento.

Rio de Janeiro, RJ – Brasil.
Dia 9 de setembro de 2007, domingo.
Feriado nacional da independência.


Estava eu jantando com minha família no centro da cidade de Muriquí, durante uma viagem ao Rio de Janeiro que fizemos no feriado da independência.
Foram-nos servidos cinco filés de peixe, seis filés de picanha, duas porções de arroz, uma porção de farofa, duas cumbucas pequenas de molho vinagrete (do qual nunca gostei) e uma cumbuca média de pirão de peixe.
Para alegria dos moradores, um sujeito vestido de camisa listrada branca e vermelha cantava musicas de gosto discutível enquanto as pessoas dançavam (aqui me incluo) animadamente.
Após a refeição, conforme fizemos na noite anterior, eu e meu pai decidimos caminhar até a pousada na qual estávamos hospedados. Minha progenitora, minha irmã e seu respectivo namorado retornaram de carro para a hospedagem, tal e qual na noite que antecedeu o ocorrido.
Caminhamos então, eu e meu pai, por uma estreita rua até o calçadão da praia. Passamos por um show de funk carioca, para o qual pensei em retornar mais tarde com minha irmã.
Já próximos da rua de nossa pousada, que ficava cinco quadras em direção ao bairro, meu velho pai chamou para uma conversa à beira-mar.
Engajamo-nos num dado assunto particular que rendeu ao menos uma hora.
Foi então que os distúrbios iniciaram na forma de um desconforto intestinal.
Insisti ainda por mais cinco ou dez minutos na continuidade da conversa, quando se deu a primeira e mais suave das contrações. Não me parecia algo anormal. Apenas pressenti que devíamos antecipar um pouco nosso retorno bairro adentro.
Caminhávamos ainda sob a luz da discussão que havíamos iniciado e assim prosseguimos até atravessar a linha do trem, passando pela pracinha na qual desembocava a rua de nossa hospedaria, ainda há quatro quadras (n.a: quadras praianas, ou seja, maiores que um quarteirão comum) que formavam um imenso corredor de paralelepípedos parcamente iluminado.
Neste ponto, exatamente há cinqüenta metros dos trilhos foi que senti a segunda contração. Um estremecimento que ascendeu do abdômen para o pescoço, percorrendo toda a minha espinha.
Parei.
Senti como se um gorila estivesse tocando xilofone em minhas vértebras.
- Estou me sentindo mal – Disse a meu pai com a face levemente retorcida e a mão direita pressionando o ventre.
- Por que não disse nada? Podíamos ter ido de carro. – Respondeu ele preocupado.
- Não, não. Foi agora. Estou sentindo algumas dores.
Pelos próximos quinzes passos meu velho prosseguiu com o assunto enquanto eu procurava dar mais atenção a ele do que ao meu estado, que ainda acreditava ser um problema passageiro.
Parei novamente.
Um terceiro tremor me obrigou a contrair todos os músculos. Sem dúvida eu contraí cada músculo existente em meu corpo e instantaneamente senti que estava suando frio. Exigia uma concentração absurda para coordenar os músculos-alvo, que impediam a tragédia eminente.
- Ai!
- É melhor irmos mais rápido.
- Não. Preciso ir num ritmo mais lento... – iniciei então uma marcha quase fúnebre.
- Então vamos andar no seu ritmo. Quer que eu vá na frente e pegue o carro?
- Pegue o carro – sussurrei de forma a desempenhar o menor esforço possível.
Neste momento percebi quanto minha situação era precária ao ver meu pai, que já passara dos 50 anos, desaparecer em disparada pela rua escura.
Faltavam ainda três quadras, contadas a partir do cruzamento no qual me encontrava.
Antes que pudesse reagir, um quarto tremor obrigou o imediato encontro de meus calcanhares e, igualmente, de meu joelhos.
Quase pude sentir minha nádegas indo de encontro uma a outra, num esforço que parecia uma tentativa de sufocar algo ou alguém. Senti que venceria um braço de ferro contra qualquer homem, talvez uma dúzia deles, somente com a pressão e empenho que aplicava naquela região de meu corpo.
Qualquer pensamento que tenha me ocorrido naquele momento foi instantaneamente apagado! Sofri de amnésia temporária, originada do extremo esforço que meu corpo desempenhara em busca da última gota de dignidade que restava.
Como um animal encurralado, olhei para minha esquerda, ainda no cruzamento, para estudar minhas alternativas.
A ruazinha parecia deserta, sendo que logo ao meu lado encontrava-se um daqueles jardins feitos na calçada, com uma grama verde e fofinha que se estendia delicadamente por entre as pedras do caminho de blocos de cimento.
É incrível o que se pode pensar num momento de aflição como este. Logicamente eu nunca imaginaria um lugar daqueles como ideal para aliviar a situação, mas naquele exato momento senti que poderia depilar minha nádega ali sob o sol do meio-dia se fosse necessário. Isto me parecia mais do que natural em vista da aflição pela qual estava passando.
Agarrei-me na esperança de conseguir caminhar por mais três quadras antes de perder meu senso do ridículo e minha elegância.
Num esforço digno de herói, marchei vagarosamente em direção à pousada, ainda com os joelhos totalmente colados um no outro, movimentando o mínimo possível o corpo. Assim prossegui bravamente até a próxima quadra, onde encontrei o ambiente dos meus sonhos.
Deparei-me com o córrego. Que lugar lindo!
Quão gracioso era aquele vaso sanitário imenso a céu aberto! Que emoção!
Parei sobre a pequena ponte que ligava suas margens e imaginei-me imediatamente aliviando meus pesares naquele local.
Foi então que, mais uma vez, aquela contração me açoitou.
Desta vez sem dó alguma, percorreu meu intestino em ascensão para a parte superior de meu ventre, pegou embalo e desceu com toda força em direção ao solo.
Pensei em não resistir. Deixar que viesse de uma só vez e levasse a cabo meu sofrimento.
Neste momento olhei para frente e vi um veículo, um Toyota Corolla prata, estacionado à minha direita, logo à frente, com quatro pessoas dentro que olhavam na minha direção e uma senhora obesa que usava um vestido azul turquesa e óculos, em frente a um portão de metal branco, também admirada. Encaravam-me tentando compreender minha súbita parada.
Mais uma vez a dignidade me chamou pelo nome.
Prendi a respiração, tracionei os músculos canalizando toda a minha energia para o esfíncter anal e, com um último esforço, forcei um movimento totalmente inédito para mim, que denominei posteriormente de “espirrar para dentro”.
Naquele instante tudo parou. Senti que pela primeira vez na vida havia encontrado um concorrente à altura para minha já reconhecida teimosia: meu cu!
Não quero ser vulgar, mas depois disso conquistei uma intimidade com ele que me permite chamá-lo pelo nome sem sentir que estou ofendendo alguém.
Traduzindo para uma linguagem iconográfica, imaginemos um diálogo:
Eu: Isso não vai sair daí na frente dessas pessoas todas!
Cu: Aqui esse pirão não fica!
Eu: NÃO! Tenho que ser forte! Não posso fazer isso com 22 anos!
Cu: Amigo, desculpe. Mas isso acaba agora...
Eu: Isso não será assim! Eu mando aqui e o pirão fica!
Cu: Não fica nããão...
Ele estava certo. Senti que consegui segurar o suficiente para não sujar a roupa íntima com um esforço sobre-humano. Mas algo já ocupava o espaço vago de meu traseiro.
Reiniciei minha caminhada até a hospedagem, já prevendo que a próxima contração traria ao mundo um “ogrinho” saudável.
Apertei um pouco o passo ao sentir que a situação se agravara com um possível contato com a roupa de baixo.
Mais uma quadra fora vencida. Mais uma vez senti que a contração fatal estava a caminho. Meu estômago roncara em alerta.
Avistei o grupo de veículos estacionados que indicava o local de minha pousada. Imediatamente verifiquei que um Palio preto saía de ré da garagem, o que indicava o esforço já tardio de meu velho pai, que logo sairia com o Celta lá do fundo da mesma garagem.
Avistei nosso carro prata logo que entrei pelo portão aberto, que poupara o tempo de tocar a campainha da recepção e aguardar que o segurança sonolento viesse abri-la.
Atravessei a garagem sem olhar para lado algum, passando pelo balcão da recepção que, para minha sorte, estava vazio assim como os corredores que levavam ao quarto.
A sexta contração aconteceu ali. Alguns passos antes da escada de dois lances que terminava em frente ao quarto número 14. Meu quarto. Infelizmente, quando estamos mais próximos de nossos objetivos relaxamos, fazendo com que os resultados raramente cheguem a 100%. Dessa forma, mais uma pausa estratégica e outro esforço de concentração me pareceram demasiadamente masoquistas, estando há menos de vinte degraus e quinze passos do tão sonhado banheiro de meu quarto. Isso poderia ter tornado estável minha situação, que não passava mais dos 80%, mas até para um cabeça-dura como eu esta distância seria uma eternidade.
Encarei os fatos. Cada degrau piorava aproximadamente 3% minha situação, sendo que os 20% restantes permitiram o mínimo estrago em minha bermuda que, obviamente, era branca assim como todo o resto de minha roupa.
Entrei no quarto sem nem mesmo perceber que havia aberto a porta. Minha mãe estava sentada na cama.
- O que aconteceu? – Perguntou-me apenas levantando os olhos enquanto mexia num colar.
- Prepare um ENO! – Respondi marchando direto para o banheiro.

O Banheiro.
Esta foi uma experiência à parte.

Eu nunca, até hoje, havia encarado esta situação.
Para mim, o famigerado “pirirí” era tão real quanto a mula-sem-cabeça ou a heterossexualidade do Michael Jackson.
Quando me diziam “ontem tive um pirirí horrível, tive que correr para o banheiro”, eu achava muito surreal! Para mim não havia algo que fosse tão incontrolável assim.
Pois paguei minha língua.
Entrei no banheiro, tirei a bermuda e senti que o tempo entre sentar, fazer força, soltar o ar dos pulmões num sinal de alívio e ficar ruborizado com os sons subseqüentes podia tornar-se o mesmo. Tudo aconteceu de uma só vez, sendo que o respeito habitual pela ordem, ritual e importância destas ações fora totalmente marginalizado.
O trabalho foi rápido. Nem parecia merecer toda aquela urgência e humilhação. Mas merecia. Não vou discutir.
Rapidamente me livrei dos tênis e das meias. Retirei apenas a carteira e o celular dos bolsos e, ao tomar coragem para checar o estado da cueca e da bermuda, imediatamente lancei ambas no box. Liguei a torneira de água escaldante e deixei que tudo se resolvesse por lá, fechando imediatamente a cortina.
Foi quando me dei conta de que o papel higiênico poderia não dar conta do recado. Chequei o estado da tampa do vaso com uma rápida levantada e, em pânico, tirei a camiseta, que foi atirada na cadeira ao lado com violência, entrei no chuveiro jogando as roupas que estavam no chão para o fundo do box e, só então, tirei os óculos e o relógio que para minha sorte era a prova d’água.
O sabão e a água quente foram grandes aliados na restauração de minha calma e dignidade feridas. Lembrei de dar a descarga depois que já estava completamente isento das lembranças de minhas fraldas dos três anos de idade e de ver que, com um pouco de paciência, a bermuda branca voltara a ser branca e a cueca já estava até com cheirinho de xampu. Pendurei-as com a elegância de um lorde na barra do box e, posteriormente, retirei da saboneteira meus óculos, que se fossem vivos certamente desejariam não enxergar mais nada pelo resto de seus dias!
Sequei-me observando o absurdo que aquela noite havia se tornado. O tênis no chão com os bicos colados e os calcanhares há um palmo de distância, exatamente na posição que permitia o insistente encontro de meus joelhos na esperança de não perder a luta, os últimos 20%, na reta (ou reto!) final.
A carteira jogada em frente ao vaso simbolizava o desespero tal qual o celular, que se encontrava há aproximadamente trinta centímetros da tampa de sua bateria, que disparara de encontro à parede com o impacto que sofrera contra o solo durante o desespero para eu entrar no banho.
Tudo estava bem novamente. Saí de lá esperando pelas piadinhas de meus pais e também pelas minhas, já que conseguira rir algumas vezes da situação durante o banho.
Não me importei com nada disso, pois, na verdade, passei pelo meu primeiro pirirí aos 22 anos com muita dignidade e com a certeza de que lutei até o final.
Apesar da aflição e do estado de quase infância, tudo fica muito bem quando acaba o pesadelo.
Que venham outros pirões!

segunda-feira, fevereiro 25, 2008

Matinal

O rosto avança pelo vento gelado da manhã
São cinco horas e as pernas se adiantam
É escuro na São Paulo gelada pela garoa recente
O asfalto negro enriquece seu pretume na água

São momentos sem carros, de livre pensamento
Quebra-se o silêncio na dobra da avenida
Avançam os sinais e as praças
Contam-se a respiração e os passos

Mais verdes estão as árvores das alamedas
Mais coloridas são as nuvens da metrópole pela manhã
Já clareando o dia com o sol que se esconde no concreto
Que esquenta a água noturna e evapora a visão

Camuflam-se os comerciantes atrás das portas entreabertas
Deixando para trás os passos rápidos na avenida
Largos e solitários, rumam para o bairro novamente
Que já sussurra com a energia dos chuveiros, dos fogões e dos bons dias

É o calor nas pernas que avisa do cansaço
A hora de desligar o corpo e limpar a mente
Sedenta marcha da garganta que retorna
Mais um dia vencido pela vigorosa corrida.

quinta-feira, fevereiro 21, 2008

Poema Fácil

É coisa fácil de se fazer
Amor simples
Gostoso de ter
Prazer em se dar

Querer saber como estão as coisas
Pedir para ligar quando dá tempo
Lembrar de se lembrar a toda hora
Doer quando o longe está perto
E ir quando estiver quase chegando

Amar é saber como agir
Reagir
É o pouco que faz diferença
Faz sentido

Saber decidir às vezes
Esquecer de cobrar quase sempre
Destilar sentimentos a toda hora
Aprender a dividir agora
Sem separar amanhã

Amar é ser tudo para poucos
E não esquecer de ser algo
Valer mais que os outros
Ser tanto para alguém

Amar é isso tudo enfim
Custa quase nada
Desejar sempre muito
E viver a pessoa amada

terça-feira, fevereiro 19, 2008

Renascimento

Vejo as luzes vacilantes destas velas
Que por séculos acenderam grandes mentes
Forjando à noite partituras geniais
Crivando em páginas palavra incandescente

Prometeu, que trouxe a dádiva do Olimpo
Da pedra ao reino, que das trevas veio à luz
Caronte avesso trouxe vida ao velho limbo
Cavaleiro traz no peito a nova cruz

Fulgor dos mares já cantado em tristes versos
Manchas de óleo na maré dos bons pincéis
E o cinzel que dobra a pedra com sucesso
No conto vivo dos antigos menestréis

Das quatro pernas mãos reais criaram a lança
Que dos joelhos apontaram o alvo véu
E quando os Deuses entenderam aquela dança
Dedos sublimes encontravam-se no céu.

segunda-feira, fevereiro 18, 2008

domingo, fevereiro 10, 2008

A peleja do Barão Vermelho com o Esquadrão da Morte

Era sempre dura a batalha travada entre o Barão Vermelho e o Esquadrão da Morte.
Voava o primeiro em busca de novas missões, pelo céu ornamentado com as explosões das baterias antiaéreas.
Mergulhava livremente o avião em curvas alongadas e subia novamente, rodando em busca de um vôo preciso e arriscado.
Pontualmente às quatorze horas o caçador dos ares avistava os aviões do Esquadrão da Morte. Hora surgiam despencando em chandelle das nuvens, hora surgiam como monstros marinhos vindos das profundezas do oceano.
O Ás Vermelho riscava os céus rapidamente e se punha elegantemente atrás de seus algozes, derramando os sons de suas metralhadoras e canhões sobre suas orelhas.

Os inimigos estavam sempre em maioria, não importava quantos eram abatidos nas batalhas diárias.

Reza a lenda que o Barão percorreu toda a sua vida num vôo turbulento, fugindo das baterias terrestres e do Esquadrão da Morte. Rodopiava os céus subindo, mergulhava entre as nuvens buscando uma saída. Assim era sua rotina, derrubando um inimigo a cada minuto. As chuvas rasas de balas nunca atingiram mortalmente o ventre de seu avião. Nunca houve sequer um pouso forçado para o Barão Vermelho.

Açoitado sempre, buscava uma nova saída para seu destino dia após dia.

Quando a munição acabava ele seguia voando baixo com as ondas da costa roçando suas asas, afastadas pelo ronco grave do motor que o levava sempre adiante.
Mesmo quando baixava o trem de pouso não dava o braço a torcer. Era só para recarregar munição e combustível, recordar um sono leve e revisar as estratégias de ataque. Logo decolava como se as sirenes soassem o tempo todo.

No ar sentia seu peso real, o peso de um guerreiro, que é caçador e caça ao mesmo tempo.

Nunca chorava, nunca dormia e nunca duvidava da cumplicidade de seu avião.
Não havia quem mandasse nele, e só mesmo ele tinha certeza de cada uma de suas manobras.
Pelo Barão ninguém velava em terra e os Deuses o protegiam para assistir àqueles vôos perfeitos mais uma vez.

Solitário, enfrentava todas as vidas enquanto vivia apenas mais um dia de vôo.

Ninguém o compreendia e nem mesmo queria fazê-lo. Se chorava ou sorria não era problema, o certo é que protegia seu mundo sob convicções próprias.
Mantinha sempre sua rota incerta e trazia de volta mais uma dezena de estrelas de inimigos abatidos para pintar na lateral de sua armadura mais pesada que o ar.

E, mais uma vez, eram quatorze horas em ponto.

quinta-feira, fevereiro 07, 2008

Desabafo

Tem gente que não desce do salto.
Nem para dançar com as crianças.
Que não perde a pose.
Para não perder a posse.

Tem gente que não chora.
Nem borra a maquiagem.
Que não arrisca na vida.
Para não perder a aposta.

Tem gente que não aproveita o dia.
Nem experimenta o sanduíche da esquina.
Que não saboreia a bebida.
Para não se embriagar.

Tem gente que não calcula a rotina.
Nem se pergunta se vale a pena.
Que busca riqueza num banco.
Para não ter que enriquecer o lar.

quarta-feira, fevereiro 06, 2008

Mesa de frente para o mar

O que descobri sobre a saudade é o que basta.
É um sorriso.
Um espírito de luz já conhecido, que de tão longe retorna.
Alguém que da conversa já sabe toda a prosa.
Vivenciou os dias e deixou muita saudade nos espaços.
Faz falta.

E que mais uma vez traz a alegria para essa cidade.
Compartilha da cumplicidade, ainda longe do passado.
Sentimento ressabiado pela distância presente.
Carinho que traz lembrança afastada.
Do seu jeito marca.

Verdades que não se perdem entre dois que tanto se conhecem.
Sonhos já sabidos, reconhecidos.
Que decoram o caminho da amizade.
Concluem numa só sentença a conversa diante do mar.
“A verdade é que é bom ter alguém que pensa na gente quando nós mesmos esquecemos de pensar”.
E que aos poucos lapida as saudades com o cinzel das verdades.
Que o tempo nunca cogitou apagar.

quinta-feira, janeiro 31, 2008

Samba do Mar

Sambei uma dança engraçada.
De peixe sufocado nas areias da verdade.
Chorei a música nos pés da saudade.
De quem nada num oceano de perseverança.

Não sabia do todo quase nada.
E quem muito nada um dia sofre, cansa.
Da dor nas pernas e da cor verde das algas.
Que se enrolam no emaranhado das lembranças.

O samba navegava minha mente.
O chorinho lamentava a arrogância.
De quem mergulhou no profundo azul das águas.
E naufragou no caminho da esperança.

Acordei um novo dia.
Num acordo com a vida.
Tal qual o samba que inquieta a quem passa.
Com sua graça, sua raça, sua harmonia.

Rima Noturna

Lustrosa é a bandeja de pura prata.
Onde se carregam o sorriso e a alegoria.
Planície de uma terra abençoada.
Pela doçura hipotética da vida.

Calçando os sapatos da clausura.
Vestindo o terno da sabedoria.
Acorrentado à caverna da ternura.
Preso pelas garras da alegria.

Acontece do escuro virar dia.
Molhado pelo suor boêmio da rotina.
Como uma caixa de bombons açucarados.
Saboreados em contagem regressiva.

E o que importa é fazer parte da música.
Que canta os perfumes dessa vida.
Cobrando os centavos de quem passa.
Sem cunhar pratos nessa fome de artista.

terça-feira, janeiro 29, 2008

Suspiro

A fumaça lenta subia pela encosta.
Junto com o maço de pensamentos.

De cada qual um igual.
Como as ondas que vêm em seqüências.

E os dias de sono, de discussões desnecessárias.
Todo o amor que o tempo sorve.

Absorvem a alma e o corpo do faroleiro.
Que não descansa mais os olhos.

Músculos cansados do trabalho.
Alma cansada de tanta água.

Desse oceano que nos faz boiar todos os dias.
Para lá e para cá.

Num farol apagado chamado vida.

segunda-feira, janeiro 21, 2008

São Paulo

É gostosa a manhã de São Paulo.
As ruas escuras e o vento gelado.
Garoa fina que insiste.
Lembra os ventos Europeus.
Cá e sempre estão os carros.
Que fazem as ruas nova-iorquinas movimentadas.
Pessoas com cara de cinco horas caminham a passos curtos.
Algumas indo, outras voltando.
Ainda em silêncio.
Não raro, ouve-se um bom dia bem brasileiro.
Bom dia São Paulo.
Existe ainda muito a se falar sobre a metrópole.
Seu lado cinza, fumarento e dolorido.
Não, hoje não.
Hoje é uma bonita manhã na cidade que não dorme.
Bom dia São Paulo!

domingo, janeiro 20, 2008

Cinzas

Severos são os dias de chuva.
Navios do distante pensamento.
Sonhei que passavam os dias.
Dia após dia.
Dia após dia.
A fome da alma atacou a tripulação.
Boas vindas da solidão cotidiana.

sábado, janeiro 19, 2008

Caminho

Ao caminhar sentia um cheiro.
Era um cheiro de chuva que deixava o ar estranho, leve.
E a calçada girando sob os pés com suas trincas e manchas.
Imperfeições da vida.
Tudo o que eu queria era sentir aquele cheiro.
Como buracos no asfalto do ar.
Tudo que preciso agora é caminhar sozinho...

Possuída

E ela em meus braços
A vida. Tudo
Os sentimentos; seu toque
E os corpos se encontram

Como meus braços; o envolvimento
E os delírios desse vício
Ultrapassando barreiras de pudor
Nenhum erro cometido; a luz

E o coração pulsa brandindo como uma espada
Todo o amor; os pecados
E os pecados perdoados
Uns após os outros

Toda a dor escoa de e para meu peito
E em pouco mais de cinco minutos; o tempo
Eras e eventos cabalísticos passam mais e mais rápido
Perda, fome, choro podem esperar e sofrer profanação

Nunca o amor neste
E os atos, o escuro, cada célula de meu corpo reflete
Amor incontestável

Amo-te sem dizer
Amo-te o mais que posso
Desejo-a, sim, mas amo-te
Mais que e antes de tudo

Procuro-te em mim a cada vez que respiro
Quero. Posso. És minha!
Possuída; minha
Comigo para a eternidade

EU

Sou esse Italo-Sulamericano
Simples guri
Percussão de batida profunda
Viva alma do mundo cão
Gerado da profusão de mente chocada
Grande coração
Amigo no toque e no gesto
Bicho fiel e despreocupado
Mas dá trabalho...

Grande pedaço de chão e terra firme
Naco de carinho e paixão
Quieto no princípio e espaçoso no meio
Lente turva de pensamentos
Acidente geográfico-financeiro
Tudo amontoado nos sonhos de alguém que insiste mais
Até a exaustão
Severa necessidade do ser
Humanidade difusa
Eu.

sábado, janeiro 12, 2008

Dica 02 +

[...] Por opaco, me refiro ao significante que chama muita atenção para si próprio, dessa forma obscurecendo o significado. Seus textos são, a meu ver, muito mais orientados ao significado do que ao significante - mais orientados à mensagem do que à forma em si. São bastante próximos da fábula, quase com uma "moral da história".

Cativa

Semearam no firmamento uma estrela.
Surgiu do inesperado dizendo que estava ali com sua luz própria.
Acendeu sem pedir a ninguém e ascendeu.
Chegou para ocupar o espaço que já era dela no céu e na terra.
Empurrou o sol.
Chutou a lua.
Gritou para todos que quisessem ouvir sua falta de censura.
Ocupou corações de um jeito doce.
Pediu para ficar juntinho e nunca mais se foi.
Sei dizer quando está mais fraca, mas nunca dá para saber a hora que escolheu para brilhar forte.
Sorri quando quer, não quando precisa.
Mas sente necessidade de sorrir o tempo todo.
Tira da chapelaria sua experiência sem pagar nada e deposita no altar do céu.
Tem luz que ilumina forte, mas não fere.
É gentil no toque, no gesto e não nega carinho.
Tem a beleza da cor feminina, mas não se curva para as vontades do mundo.
Quer muito mais da vida, apesar do pouco que pede.
Mas sabe o dom que tem e a palavra que lhe guia.
Cativa.
E ganha espaço por que sabe que pode e não faz corpo mole.
Dentre todos os corações que já iluminou, nenhum sequer disse que não pode.
Amiga.
Mulher.
Parceira querida.
Corre para sua vida!

Jacuzzi

O conhecimento é enorme. A abstração turva do saber alucina o pensador no complexo. Cérebro. A ágape dos Deuses de outrora. Sabor. A mente mente. Alucinação conseqüente, sua nos poros e me faz água. Entranhas. Ricas piranhas me agrilhoam os braços. Pulso. Congela. Eu? Toc-toc. Um promontório de emoções. Patética. Me rio, me mar, me oceano de água e sal. E eu me pedra. Partícula ínfima da realidade. Desprezível. Intransponível. Indivisível. Toc-toc? A curiosidade matou o gato. Belo. Chuva de rastelos. ignis-fatui da sociedade. Mentira. É meu! Luvas? Cabresto do mundo. Glub, glub, glub. Âmbar da genialidade. Loucura? Pura. Pura! Caramelo do desejo. Beijo. Santa fé da Verdade. Sexo. Duplex com vista para o mar. Machado. Amputada sociedade dos casais. Verbais. Fim da era carnal. Ruminantes. Transa diamante. Humano capado. Augusto. Magna carta da palavra. O bispado corrompido. Cumprida. Foi a estrada da falácia. Poltrona. Galileu prometido. Quixote empedrado. Cio. Espada e Jarro. Esparta. Helena engasgada. Engastada. Pedra bruta e brutal. Gorgolejo antigo. Mito. Grito abafado. Morte. Esfinge final. Confiscado és. Crimidéia confessa. Alaska. Perfume suado. Belisca o real. Nanico. Odisséia gostosa. Me árvore em vida. Fruta proibida. Paraíso fiscal.

domingo, janeiro 06, 2008

Política. E tudo isso aí.

Política? E tudo isso aí.
Quem nunca se perguntou se é uma pessoa politizada? Ou acreditou que a verdade estava em suas mãos em dado momento?
Seja qual for a causa, o fato é que quando o interesse de outrem se alargar mais que suas próprias margens os demais sentirão o desconforto da cotovelada alheia. Não há nada mais político do que defender os próprios interesses. Sempre haverá alguém com mais ou menos oportunidades para isso, mas o que interessa de verdade é que os direitos de alguns não são os interesses de outros. Aí é que o mundo vira sopa e a porca torce o rabo!
Solta-se o grito, é dada a largada, ou a contagem regressiva chega a zero e, então, aí então, liberta-se o mais profundo e socialmente abastado ser político que se encerra em nossas entranhas.
Política é isso aí, e aquilo também.
É sempre um show ver a mídia tocando as trombetas do apocalipse para um general sul-coreano, um tal de Aiatolá-não-sei-oque-lá, um primeiro ministro a serviço de uma velha rainha surda e festeira, um pequeno delito de alguns milhões de dólares aqui, uma garganta cortada ali, um avião passeando para longe de sua rota... Nada de novo no front. E quando o famoso presidente Tal desvia verbas de pesquisas e educação para um novo projeto superfaturado então?! Bom, aí ninguém sabe de nada até que se prove o contrário. E o povo? Bom, qual é a graça para nós de ouvirmos falar dessas coisas? Nenhuma. Sem prisões, sem sangue, sem mortes dramáticas ou tiros de tanques de guerra. Um grande nada. Falar do abuso de dinheiro público é chato, deixe para as campanhas partidárias! Dinheiro público tem esse nome por que é de todos e não é de ninguém, então não tem problema nenhum. De que me vale o farfalhar de notas que não estão na minha mão?
Outro dia mostraram-me um vídeo de alguns terroristas degolando um refém civil depois de um longo discurso sobre pessoas alheias em seu país, fome e mais alguns probleminhas de administração antigos, mas que aparentemente foram recém descobertos pelas autoridades. Era muito sangue que corria por entre as risadas dos algozes. Terrível, nada humano! Apertou a garganta e me lembrou Hemingway descrevendo cenas de guerra em seus livros. Enquanto isso, o tal do Aiatolá do capeta se concentrava para passar o resto de sua vida rezando pelo bem das pobres almas de seu país, tenho certeza. Tal qual o famoso autor estadunidense recém citado que, nos intervalos de suas tantas obras sobre a natureza humana e a beleza, matou 122 pessoas a sangue frio nas salas de interrogatório do exército norte americano.
O líder político-espiritual superior brinca com a morte em sua própria casa e faz isso com muita paixão, o Aiatolá. Paixão pelos seus interesses, em nome das necessidades de seu povo, que fique bem claro! Os citados reféns eram civis ou fardados que não podiam ser mortos, protegidos por uma infinidade de convenções, códigos e regras criadas para organizar as tais das guerras. Afinal a guerra é a política do bicho Homem em sua expressão final: Mais bicho, menos Homem.
É incrível a inteligência política! Até para brigar e se matar amarra-se os braços para evitar as cotoveladas e, como em qualquer briga, ganha quem bater mais forte. E adivinha quem ganha o chacoalhão diplomático dessas potências intelectuais a serviço de sua majestade, seja ela qual for?
Mas é isso que é política: pessoas cortando cabeças alheias e levando cotoveladas enquanto se acomodam nessa casinha apertada que chamamos de planeta Terra. Um mundo de egos onde a oportunidade de melhorar a própria vida pode ser facilmente confundida com luta ideológica.
Alguns fatos são e nunca deixam de ser. Eu quero mais, você quer mais, ele, ele e aquele também querem e essa é a função de ambos; do querer e do dinheiro. E a dignidade? O dinheiro já ultrapassou também e o máximo que você pode fazer por ela é comprá-la por um preço que varia entre um afago com a mão e o gosto metálico do sangue que jorrava da garganta daquele tal civil, o que morreu na mão dos terroristas.
O Aiatolá e o primeiro ministro pagam o preço, seja ele qual for. E você? Para onde você acha que vai o petróleo, a dignidade, a educação e o alimento que pertencem tanto ao civil quanto aos terroristas? Você, que está lendo esse texto impresso em papel ou no computador, já comeu hoje? Não estou dizendo que a culpa seja minha ou sua, deixo-a para nossos Aiatolás, ministros e presidentes, mas o fato é que o sangue alheio sempre é bonito de ver ameaçado. Quem não ficaria orgulhoso de ter o exército mais bem armado e treinado do mundo? “Joga uma bomba nesse país que logo tudo se resolve!”; “Esses caras não são gente, são animais!” Prefiro chamá-los de ferramentas e acreditar que o ministro, o Aiatolá e o presidente desviam a verba da educação que deveria transformar essas ferramentas em homens de verdade, com dignidade e cultura, como eu e você. Então, nossa posição nessa guerra só poderia ser uma das duas: a do civil degolado, que nada pôde falar, ou a do Aiatolá que teve oportunidade de estudar e tirar proveito da ignorância alheia. E aí? Que poder tenho eu por não ter me tornado nada disso? Quanta dignidade quero mostrar escrevendo um texto, apontando o dedo para meu próprio futuro e para o seu também, seja ele qual for? E faz diferença? Será que o personagem correto para mim não seria o degolador, aqui no teclado, usando uma arma tão afiada quanto a faca?
A política alheia não será tocada pela minha revolta, nem por mil outros textos iguais a este. Ou facas. Mas estou fazendo minha parte na guerra política, massageando meu ego e acotovelando todos que me possam sentir nesse momento.
Seria isso o correto?
Não sei. Julgo e julguei. Mas minha cabeça ainda comanda meu corpo, minhas mãos não estão sujas de sangue e ainda não tive oportunidade de superfaturar nada por punhados de dólares. Como vou saber se tudo isso é certo, se é certa a política... e tudo isso aí?

quinta-feira, janeiro 03, 2008

A Batalha

- Raposa uno, entendido. Virando à esquerda para zero-meia-zero, descendo e mantendo nível de vôo a zero-três-quatro, apontando vetores para cabeceira três-cinco.
Com a mão livre, Tomas aliviou cuidadosamente a correia do capacete enquanto coordenava os comandos de seu caça F-15, mergulhando-o numa ligeira curva descendente à esquerda.
Após estabilizar o avião, acionou os últimos comandos de pouso e enxugou o suor de seu queixo, sentindo a luva áspera irritar sua pele.
- Raposa uno, vire à esquerda para três-cinco-zero, permissão para pouso cabeceira três-cinco. Cheque trens baixados e travados.
Tomas tentava se concentrar, porém o barulho dos motores parecia sorver qualquer luz de seus pensamentos. Suava muito sob o sol causticante que o vidro da cabine ampliava como uma enorme lupa. Aquele frio na boca do estômago que o acompanhava durante o princípio de cada missão, da base até o local da batalha, e que só o deixava após a certeza de ter visto o último avião inimigo se espatifando em chamas contra o solo ainda o molestava como se o confronto ocorresse naquele exato momento. Ele podia ver em sua mente aviões caindo em parafuso, envoltos em fumaça, consumidos inteiramente pelo fogo. Pilotos ejetando em meio ao nada e caindo em solo hostil com seus corpos queimados pela metade, gritando à plenos pulmões, sentindo o vento gelado bater violentamente como dezenas de cacos de vidro encravando-se em suas queimaduras.
Tomas sentiu a boca seca e pela primeira vez em três anos, desde seu batismo de fogo, duvidou de sua vocação para aquilo.
- Raposa uno, recebeu minha última transmissão? Tomas, o que está havendo!?
Houve silêncio por mais alguns segundos.
- Raposa uno, entendido. Virando à esquerda, três-cinco-zero, cabeceira três-cinco, trens baixados e travados.
Tudo se apagara de sua mente naquele instante. Com ele estavam apenas a secura de sua boca e o frio que parecia surrar seu estômago e que não o deixara em momento algum.
Sete minutos depois o avião tocava o solo. O som dos pneus correndo a pista de rolagem e a pressão de seu próprio peso sobre o traseiro trouxe imediatamente uma sensação de conforto anestésico ao piloto.
Percorreu a base até o hangar 14, assim como indicado pelo comando de solo, desligou os motores, os instrumentos e abriu o cockpit do avião sem sair do lugar. Tirou o capacete e repousou-o sobre o abdômen. Deixou-se ficar ali sentado por alguns segundos, de forma relaxada, com as mão sobre a máscara de oxigênio.
Totalmente parado, sentindo o ar voltar devagar aos pulmões...

terça-feira, janeiro 01, 2008

Dica 01 +

Adjetivar menos, mais foco.
A vedete era o pensamento do sultão e a busca pelo futuro escrito nas estrelas, não a rigidez do tronco ou a visibilidade do céu.
O adjetivo traz bem o caráter de fábula para o conto, mas não pode se tornar um ruído para o que realmente está em discussão no texto.
Observar nas próximas oportunidades!

Fim dos Tempos

Fosse hoje o inevitável último dia
Do fim dos tempos, o tempo
O outono de todas as vidas

Não sei se me sentiria rico ou pobre
Duvido que por isso choraria
Do Sol nunca mais veria a orbe
Se na chuva, do frio agora esqueceria

Dos amigos raramente ao meu lado
Saudades dos almoços em família
Na mente não teria a dor que mata
Os prazeres e as belezas dessa vida

Pincelaria os minutos com memórias
Felizes frutos da sabedoria
Imagino outros tempos ressoando
Num acorde recheado de alegrias

Não questiono o tamanho das saudades
Dos abraços que jamais receberia
Sofreria, ainda em vida, o temor do texto
Esquecido no palco, papel dobrado na coxia

Mas há sempre uma certeza bem guardada
Nos pensamentos de quem ontem escrevia
Algo que não se carrega para os vales
Findo o alvorecer dos novos dias

Dos meus olhos saltariam mil palavras
Minha alma bruscamente invadiria
Teu coração, como quando a procurava
No primeiro, do primeiro, dos meus dias.

O Sultão

Certa noite um sultão, dono de um vasto e poderoso reino, saiu de seu castelo para apreciar as estrelas e meditar sobre sua vida. Sentou-se no jardim do palácio, sobre a grama úmida, recostou-se numa árvore e viajou para o mundo das idéias, onde mora a história de todos os seres pensantes. Permitiu-se refletir sobre o próprio passado, na juventude quando conquistou vitórias com seus exércitos, nos banquetes de sua família, no vigor de seu corpo, nos amores que deixou em vão, enfim, em tudo que sua vida representou até ali.
Em seguida passou a analisar o presente, repassando cada extremidade de seu reino, imaginando-se em cada cômodo de seu castelo, carinhosamente imaginando onde estariam naquele momento cada um de seus filhos e, por fim, muitas horas depois, avaliando as chagas que seu corpo colhia a cada passo pelo caminho do tempo.
Ajeitou melhor as costas no rijo tronco da árvore e, com olhar sábio porém desencontrado, fitou o límpido céu estrelado em busca do futuro que teria pelo resto de sua vida.
Já quase amanhecendo o sultão voltou ao castelo e mandou que acordassem seu conselheiro-mor. Prontamente o velho postou-se reverentemente ao lado do trono, aguardando suas palavras.
O sultão expeliu um profundo suspiro e pediu ao conselheiro que o ajudasse com um problema:
Com ar sóbrio, que lembrava os tempos em que comandava suas legiões pelas florestas que dividiam reinos desconhecidos, ordenou que o conselheiro construísse três caixas no mundo das idéias onde pudesse guardar seu presente, seu passado e seu futuro.
Desnorteado com tamanho desafio o conselheiro pediu licença para refletir a respeito e, rumando para seus aposentos, imaginou quem seria capaz de concluir tal empreitada.
Na manhã seguinte, de um pulo o conselheiro se pôs de pé. Correu até a sala dos tesouros e, dentre todas as jóias reluzentes que faziam seus próprios olhos brilharem, escolheu uma antiga lâmpada mágica que o sultão pilhara de um inimigo há muito falecido. O conselheiro esfregou a lâmpada na esperança que o gênio que lá jazia fosse capaz de ajudá-lo. Na verdade, aquela era a única esperança do homem.
Com um ribombar de trovões, em meio a uma nuvem azul cintilante, uma indefinida forma gasosa de olhos amarelados bradou:
- Clama por minha ajuda, mestre?
O conselheiro conteve a alegria que o pusera em nervos da cabeça aos pés, dizendo:
- Meu amo é seu amo. É para ele a ajuda que lhe rogo.
- Aqui estou para servir a ambos – retrucou o espectro mágico.
- Meu amo alcança muitas primaveras e, após muito refletir, decidiu que é tempo de conservar melhor seu conhecimento. Ordenou-me que criasse três caixas no mundo das idéias, mas não disse como poderia fazê-lo. Preciso que construa uma caixa grande, inimaginavelmente colossal, para que meu senhor possa guardar todas as glórias que constroem seu passado. Para o presente, quero que empreenda uma caixa média, que possa armazenar tão somente o espírito de seu infindável intelecto, posto que o presente vive-se pouco, nascendo no futuro próximo e falecendo no imediato passado obscuro. E, como último refúgio, construa uma caixa modesta, onde possa caber o futuro de meu amo e senhor, posto que já possua idade muito avançada.
Assim fez o gênio que, seguindo as ordens, empenhou-se na empresa da construção das três caixas. Não muito depois, afirmou ao conselheiro:
- O desejo de seu amo é minha ordem sagrada. Existem agora três caixas no mundo das idéias conforme seu pedido.
Tão logo o gênio desapareceu o conselheiro empertigou-se ao pé do trono, narrando ao sultão a odisséia intelectual daquela solução de homem comum.
O sultão felicitou seu fiel conselheiro-mor e prontamente dispensou seus serviços até que terminasse de organizar sua história naquelas magníficas caixas.
Passaram-se muitos meses e o sultão ainda encontrava-se organizando a infinita morada de seu passado. Não mais cuidava de seu reino, esquecera os impostos e a família. Descuidara dos braços mais distantes de seus domínios, já cercados de bárbaros, para dedicar-se a lustrar todas as suas glórias antigas, amontoando suas lembranças obscuras. Não mais ouvia conselhos de seu conselheiro-mor, tal como fez com as súplicas de amigos e familiares.
Já sem esperanças o conselheiro, que se arrependera de tamanha loucura, voltou a procurar o gênio que debruçara sua maldita mágica sobre a sanidade de seu amo.
Esfregando freneticamente a lâmpada, sibilou:
- Sim, caro gênio, nem mesmo toda sua sabedoria de milênios de existência, nem mesmo sua mágica universal, nem os grilhões do tempo que o encerram nesta lâmpada tornando-o escravo de infinito conhecimento puderam prever a catástrofe que criaste sobre meu amo. Tu podes libertá-lo de tal tormento, infeliz lacaio?
- Tu não me deixaste escolha em tuas ordens, mestre. Se desejavas o melhor para teu mestre, que deixasse aos meus cuidados o planejamento de tal empresa tão distante de teus conhecimentos de humano – retorquiu o gigante azul.
- Então trago meu mestre para ouvir seus conselhos, se assim puder curá-lo – duvidou o descrente.
- Que assim seja mestre.
O conselheiro correu ao trono já empoeirado e, com muito esforço, persuadiu o velho e desesperado sultão a largar seus afazeres e entrevistar-se com o gênio.
Descrente da sabedoria do titânico mago universal, o conselheiro indagou:
- Se podes mesmo ajudá-lo, aponte-nos os erros de tua própria mágica!
- Tu ordenaste uma forma própria de organizar presente, passado e futuro. Minhas ordens diretas não incluíam a melhor forma de fazê-lo, apenas seus comandos de conselheiro, palavra por palavra – respondeu-lhe profética e justamente a misteriosa nuvem.
- Então aponte meus erros, se puder saná-los.
Com ar de compreensão pela insignificância dos humanos, que muito pouco sabiam a respeito dos mundos não físicos, o gênio se pôs a explicar:
- A começar pelas caixas montadas, nunca se poderia construir boa vida para qualquer que fosse o homem. A caixa maior, destinada ao passado, comporta todo o seu conteúdo com folga, porém, entre uma conquista e outra, entre o pedestal da juventude e as vitórias de guerra, gera-se o vazio. O vazio do qual todos temos medo. O vazio que se preenche de silêncio, também conhecido como esquecimento. Essa é a verdadeira morada do passado, que tem por propriedade primária tornar a vida, história, e o vivo, morto. Com uma caixa tão grande o amo nunca conseguiria sair do passado, deixando de lado quem realmente merece a maior caixa: o presente! O presente deve ser a morada do homem, pois as glórias do passado nasceram como sonhos no futuro, tornando-se realidade ao passar pelo presente. O presente é onde o homem deve empenhar seus esforços, pois um passado sujo e amontoado não obriga um presente igualmente miserável, porém, um presente mal cuidado rapidamente transforma-se em passado. Quanto maior a caixa do presente, maior será o trabalho de completá-la, obrigando o homem a empenhar-se em sua construção perfeita, tornando-a cada vez mais valiosa perante as outras caixas, fazendo com que o passado esteja sempre ordenado e permitindo a busca do elemento formador do bom presente: a felicidade. Essa é a verdadeira distribuição das caixas capaz de tornar sua vida, amo, como realmente desejas.
O velho sultão franziu as sobrancelhas e, sem conter a curiosidade, indagou:
- E quanto ao futuro, deixarei-o desorganizado, sem um lugar para acomodar? Não seria ele a morada de meus mais profundos sonhos?
E como última lição, respondeu o gênio:
- Sim, o futuro! É um tempo travesso, do qual ninguém nada sabe e, ao mesmo tempo, tudo se espera. Não se deve encerrar o futuro em caixas ou em sonhos, mas posso garantir uma coisa a seu respeito: Ele bebe do tempo e se alimenta das soluções do presente. Com uma caixa tão grande e completa de realizações presentes, o lar de seu futuro será o imenso universo e nele todas as oportunidades estarão a lhe esperar!