domingo, janeiro 06, 2008

Política. E tudo isso aí.

Política? E tudo isso aí.
Quem nunca se perguntou se é uma pessoa politizada? Ou acreditou que a verdade estava em suas mãos em dado momento?
Seja qual for a causa, o fato é que quando o interesse de outrem se alargar mais que suas próprias margens os demais sentirão o desconforto da cotovelada alheia. Não há nada mais político do que defender os próprios interesses. Sempre haverá alguém com mais ou menos oportunidades para isso, mas o que interessa de verdade é que os direitos de alguns não são os interesses de outros. Aí é que o mundo vira sopa e a porca torce o rabo!
Solta-se o grito, é dada a largada, ou a contagem regressiva chega a zero e, então, aí então, liberta-se o mais profundo e socialmente abastado ser político que se encerra em nossas entranhas.
Política é isso aí, e aquilo também.
É sempre um show ver a mídia tocando as trombetas do apocalipse para um general sul-coreano, um tal de Aiatolá-não-sei-oque-lá, um primeiro ministro a serviço de uma velha rainha surda e festeira, um pequeno delito de alguns milhões de dólares aqui, uma garganta cortada ali, um avião passeando para longe de sua rota... Nada de novo no front. E quando o famoso presidente Tal desvia verbas de pesquisas e educação para um novo projeto superfaturado então?! Bom, aí ninguém sabe de nada até que se prove o contrário. E o povo? Bom, qual é a graça para nós de ouvirmos falar dessas coisas? Nenhuma. Sem prisões, sem sangue, sem mortes dramáticas ou tiros de tanques de guerra. Um grande nada. Falar do abuso de dinheiro público é chato, deixe para as campanhas partidárias! Dinheiro público tem esse nome por que é de todos e não é de ninguém, então não tem problema nenhum. De que me vale o farfalhar de notas que não estão na minha mão?
Outro dia mostraram-me um vídeo de alguns terroristas degolando um refém civil depois de um longo discurso sobre pessoas alheias em seu país, fome e mais alguns probleminhas de administração antigos, mas que aparentemente foram recém descobertos pelas autoridades. Era muito sangue que corria por entre as risadas dos algozes. Terrível, nada humano! Apertou a garganta e me lembrou Hemingway descrevendo cenas de guerra em seus livros. Enquanto isso, o tal do Aiatolá do capeta se concentrava para passar o resto de sua vida rezando pelo bem das pobres almas de seu país, tenho certeza. Tal qual o famoso autor estadunidense recém citado que, nos intervalos de suas tantas obras sobre a natureza humana e a beleza, matou 122 pessoas a sangue frio nas salas de interrogatório do exército norte americano.
O líder político-espiritual superior brinca com a morte em sua própria casa e faz isso com muita paixão, o Aiatolá. Paixão pelos seus interesses, em nome das necessidades de seu povo, que fique bem claro! Os citados reféns eram civis ou fardados que não podiam ser mortos, protegidos por uma infinidade de convenções, códigos e regras criadas para organizar as tais das guerras. Afinal a guerra é a política do bicho Homem em sua expressão final: Mais bicho, menos Homem.
É incrível a inteligência política! Até para brigar e se matar amarra-se os braços para evitar as cotoveladas e, como em qualquer briga, ganha quem bater mais forte. E adivinha quem ganha o chacoalhão diplomático dessas potências intelectuais a serviço de sua majestade, seja ela qual for?
Mas é isso que é política: pessoas cortando cabeças alheias e levando cotoveladas enquanto se acomodam nessa casinha apertada que chamamos de planeta Terra. Um mundo de egos onde a oportunidade de melhorar a própria vida pode ser facilmente confundida com luta ideológica.
Alguns fatos são e nunca deixam de ser. Eu quero mais, você quer mais, ele, ele e aquele também querem e essa é a função de ambos; do querer e do dinheiro. E a dignidade? O dinheiro já ultrapassou também e o máximo que você pode fazer por ela é comprá-la por um preço que varia entre um afago com a mão e o gosto metálico do sangue que jorrava da garganta daquele tal civil, o que morreu na mão dos terroristas.
O Aiatolá e o primeiro ministro pagam o preço, seja ele qual for. E você? Para onde você acha que vai o petróleo, a dignidade, a educação e o alimento que pertencem tanto ao civil quanto aos terroristas? Você, que está lendo esse texto impresso em papel ou no computador, já comeu hoje? Não estou dizendo que a culpa seja minha ou sua, deixo-a para nossos Aiatolás, ministros e presidentes, mas o fato é que o sangue alheio sempre é bonito de ver ameaçado. Quem não ficaria orgulhoso de ter o exército mais bem armado e treinado do mundo? “Joga uma bomba nesse país que logo tudo se resolve!”; “Esses caras não são gente, são animais!” Prefiro chamá-los de ferramentas e acreditar que o ministro, o Aiatolá e o presidente desviam a verba da educação que deveria transformar essas ferramentas em homens de verdade, com dignidade e cultura, como eu e você. Então, nossa posição nessa guerra só poderia ser uma das duas: a do civil degolado, que nada pôde falar, ou a do Aiatolá que teve oportunidade de estudar e tirar proveito da ignorância alheia. E aí? Que poder tenho eu por não ter me tornado nada disso? Quanta dignidade quero mostrar escrevendo um texto, apontando o dedo para meu próprio futuro e para o seu também, seja ele qual for? E faz diferença? Será que o personagem correto para mim não seria o degolador, aqui no teclado, usando uma arma tão afiada quanto a faca?
A política alheia não será tocada pela minha revolta, nem por mil outros textos iguais a este. Ou facas. Mas estou fazendo minha parte na guerra política, massageando meu ego e acotovelando todos que me possam sentir nesse momento.
Seria isso o correto?
Não sei. Julgo e julguei. Mas minha cabeça ainda comanda meu corpo, minhas mãos não estão sujas de sangue e ainda não tive oportunidade de superfaturar nada por punhados de dólares. Como vou saber se tudo isso é certo, se é certa a política... e tudo isso aí?

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