quinta-feira, janeiro 03, 2008

A Batalha

- Raposa uno, entendido. Virando à esquerda para zero-meia-zero, descendo e mantendo nível de vôo a zero-três-quatro, apontando vetores para cabeceira três-cinco.
Com a mão livre, Tomas aliviou cuidadosamente a correia do capacete enquanto coordenava os comandos de seu caça F-15, mergulhando-o numa ligeira curva descendente à esquerda.
Após estabilizar o avião, acionou os últimos comandos de pouso e enxugou o suor de seu queixo, sentindo a luva áspera irritar sua pele.
- Raposa uno, vire à esquerda para três-cinco-zero, permissão para pouso cabeceira três-cinco. Cheque trens baixados e travados.
Tomas tentava se concentrar, porém o barulho dos motores parecia sorver qualquer luz de seus pensamentos. Suava muito sob o sol causticante que o vidro da cabine ampliava como uma enorme lupa. Aquele frio na boca do estômago que o acompanhava durante o princípio de cada missão, da base até o local da batalha, e que só o deixava após a certeza de ter visto o último avião inimigo se espatifando em chamas contra o solo ainda o molestava como se o confronto ocorresse naquele exato momento. Ele podia ver em sua mente aviões caindo em parafuso, envoltos em fumaça, consumidos inteiramente pelo fogo. Pilotos ejetando em meio ao nada e caindo em solo hostil com seus corpos queimados pela metade, gritando à plenos pulmões, sentindo o vento gelado bater violentamente como dezenas de cacos de vidro encravando-se em suas queimaduras.
Tomas sentiu a boca seca e pela primeira vez em três anos, desde seu batismo de fogo, duvidou de sua vocação para aquilo.
- Raposa uno, recebeu minha última transmissão? Tomas, o que está havendo!?
Houve silêncio por mais alguns segundos.
- Raposa uno, entendido. Virando à esquerda, três-cinco-zero, cabeceira três-cinco, trens baixados e travados.
Tudo se apagara de sua mente naquele instante. Com ele estavam apenas a secura de sua boca e o frio que parecia surrar seu estômago e que não o deixara em momento algum.
Sete minutos depois o avião tocava o solo. O som dos pneus correndo a pista de rolagem e a pressão de seu próprio peso sobre o traseiro trouxe imediatamente uma sensação de conforto anestésico ao piloto.
Percorreu a base até o hangar 14, assim como indicado pelo comando de solo, desligou os motores, os instrumentos e abriu o cockpit do avião sem sair do lugar. Tirou o capacete e repousou-o sobre o abdômen. Deixou-se ficar ali sentado por alguns segundos, de forma relaxada, com as mão sobre a máscara de oxigênio.
Totalmente parado, sentindo o ar voltar devagar aos pulmões...

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