sexta-feira, novembro 06, 2009

Cidadezinha

Existe dentro de cada pessoa uma cidade.

Um lugar perto ou distante, com cheiro de Belfast ou Manhattan, onde pode-se dividir uma torta de maçãs com os vizinhos ou nem ao menos saber seus nomes.

Para alguns esta cidade está à beira de um pântano salgado, com o cheiro taciturno e rude do lar. Para outros é uma metrópole abarrotada de buzinas e sapatos ligeiros, banhada por de um mar de futuro.

Suados pescadores trabalham em barcos camaroneiros e belas moças chafurdam em lojas entre rapazes engravatados e gentis. São lugares sólidos ou sórdidos, de pesares, pensamentos e devaneios.

Todo fato é livre de sentimentos e todo sentimento guia-se pelas placas das ruas e avenidas até seu destino.

Muitos podem habitar esta cidade para torná-la apenas sua. Os mais diversos cidadãos de cartolina, valiosos como um novíssimo bilhete do metrô, ou apenas gentis fazendeiros e rendeiras que constroem seus dias a passos de formigas.

São poucas as pessoas a quem se deve apresentar sua cidade. Trazemos para ela apenas aqueles que são merecedores desse crédito, justificados por nós mesmos.

Vez por outra é difícil encontrar alguém que realmente valha a pena levar para sua cidade para dividir uma torta de maçã ou fumar um cigarro.

Não raro, parece impossível encontrar quem realmente mereça conhecê-la.

Então o lugar torna-se muito próprio. Um poço impróprio de almas de cartolina.

E fica muito fácil perceber que os dias são muito solitários.