domingo, março 07, 2010

Melhores Filhos Para o Nosso Mundo


Vira e mexe paro para observar as pessoas. Seja numa padaria, num restaurante ou num parque, gosto de observar como as pessoas reagem e interagem umas com as outras. Pode ser alguém que esteja comigo ou alguém sentado num banco do outro lado de um gramado. Eu observo mesmo.

E foi pensando nisso que resolvi escrever sobre um assunto que parece que a nossa querida sociedade morre de medo de tocar: Por que estamos tão desconectados com outras pessoas?
Isso mesmo. Parece estranho mas não é...

Quantas vezes já não observei pessoas que sentam na mesa de um restaurante e as únicas palavras que dirigem ao garçom são “Coca-Cola” e “A conta”. Olhar nos olhos da pessoa ou agradecer então, nem pensar.

Pessoas que almoçam com você, não por amizade, mas por que é a única pessoa disponível no escritório e você quis ser gentil ao chamar pensando em não deixá-la sozinha e a pessoa passa o almoço inteiro ao telefone.

Gente que senta no metrô e fecha a cara torcendo para que ninguém venha falar com ela, afinal, nada pior do que gente que puxa papo no metrô.

Mas e qual é o objetivo disso? Para mim é uma coisa muito ligada à educação, mas que não questionamos por que mamãe ensinou que não se deve falar com estranhos. Por que papai pedia a conta e assinava o cheque naquela capinha do restaurante e, ao sair da mesa, deixava-o lá com uma gorjeta para o garçom, sem falar palavra com ninguém.

Nosso mundo de panelinhas forma pessoas que não se permitem comunicar. Pessoas que não falam com ninguém que não tenha interesses semelhantes. Conversar com um total estranho, então, é dar trela para quem não deve.

Concordo que cuidados devem ser tomados, mas penso um pouco diferente sobre isto. Não divido o mundo entre pessoas que estão nele para compartilhá-lo comigo e quem está aqui para me servir. Acho isso um pensamento estreito e antigo.

Relaciono a isto a percepção que temos de que tudo está se esgotando. Ninguém mais acredita na política, ninguém mais concorda e se desculpa com os outros quando faz uma besteira no trânsito, ninguém mais olha para ninguém para não ser acusado de promíscuo. Gente que conversa com todo mundo está errado por que não é certo se mostrar tanto assim. Então o que está certo? Viver numa concha e ser puro?

Acho tudo isso uma grande bobagem. Num mundo onde a tecnologia está cada vez melhor e mais rápida, onde as pessoas se conectam de forma imediata estejam onde estiverem, não vejo como sobreviver uma atitude mesquinha com esta.

Vejo como profissionais de muito sucesso no futuro aqueles que conseguirem não apenas falar, mas escutar todas as pessoas. Seria interessante eu dizer “desde o porteiro do prédio até o seu chefe”, por que isso é um exemplo claro: O porteiro do prédio está fazendo seu trabalho, o seu diretor também, mas o que torna um menor e outro maior?

Respondo: É essa mania que temos de colocar uma baliza entre pessoas que são “mais do que nós” (onde queremos chegar) e pessoas que são “menos que nós” (para onde não devemos olhar) e, entre as “pessoas iguais a nós” (com quem nivelamos idéias) estão nossos amigos e parentes. Isso cria pessoas infelizes, que não sabem se posicionar por que não conseguem definir qual é o seu status na sociedade.

Temos um mundo tecnologicamente conectado e avançado, porém socialmente estratificado e ultrapassado.

Grandes pensadores, grandes heróis, grandes empresários e grandes porteiros só conseguem encontrar sucesso quando se comunicam, ou seja, escutam e falam com pessoas de todos os tipos. Reconhecem as idéias dos outros. Esta simples regra resolveria, por exemplo, o problema das empresas que prestam serviços ruins e criam problemas que não conseguimos resolver por que uma central telefônica está lá para nos ajudar, não alguém que nos ouça e compreenda nossos problemas. Em plena era digital ainda não se conversa com o cliente. Isto é um absurdo.

Por não saber como falar com as pessoas também deixamos de saber ouvir. É quando sentamos para solucionar um problema e percebemos que a solução criada com muito trabalho não atende quem deveria atender. Neste caso houve um erro muito simples: Não foi permitido a quem sofre com o problema falar com quem deveria resolvê-lo, porque não havia ninguém para ouvir.

Por todos estes motivos mamães e papais, vamos jogar fora alguns conceitos que já não servem mais para os nossos filhos. Vamos substituí-los não apenas pela consciência ambiental, mas também pela consciência social.

Permitam e estimulem seus filhos para que se descubram parte da sociedade. Para que olhem os outros nos olhos com um sorriso receptivo e não se escondam das pessoas por que elas são estranhas, desconhecidas. Dê muito carinho e esteja junto em seu aprendizado, mas permita que outras pessoas também o façam.

Não há mais como manter nossos filhos distantes do que é ruim. Hoje qualquer um tem contato com as drogas, com a violência, com a corrupção. Mas é possível prepará-lo para ser alguém seguro, que saiba reconhecer outras pessoas e entender o que é bom e o que não é para si. Pelo menos dessa forma eles terão a chance de optar pelo certo.

Crie seus filhos com regras e a sociedade o ajudará a quebrá-las. Crie seus filhos com princípios e terão a chance de escolher com segurança seus próprios caminhos.

Acredito que uma sociedade tão evoluída tecnicamente precisa mais do que nunca de pessoas socialmente evoluídas. Em breve não existirá mais lugar no mundo para quem não souber falar com outras pessoas. Para quem não conseguir brincar durante um almoço no jóquei clube tanto quanto numa roda de samba sem estar deslocado do seu mundo pequeno.

Sucesso é saber se comunicar. É isso que nós buscamos uns nos outros: afinidades.

Para ter assunto com as pessoas, para entende-las sem a necessidade de um dicionário, é preciso estar em contato com elas. E para que não te desvirtuem, é preciso ter princípios sólidos.

Nossa geração está engajada em deixar um mundo melhor para os nossos filhos, mas qual será o próximo passo?
Deixar melhores filhos para o nosso mundo.

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