Às vezes sonho com um momento
Tão duradouro quanto é intensa uma vida
Quando estou num barco veloz em andamento
Na proa de algum oceano em partida
As ondas avançam com a fúria do vento
Onde as palavras não são, em tempo, bem vindas
De nada elas servem aos meus pensamentos
Ou nas pequenas geleiras já findas
Os golpes do pano contra o céu complacente
Que empurram tão solitário navio adornando
Num oceano encharcado de azul austral e ausente
Que confunde navegador e santo renegado
E quando o tempo se fecha em armadilha
Empurro o timão para um rumo distante
Afasto a saudade dos portos e suas filhas
No meio da rima de uns braços carentes
E sinto a liberdade que busco a caminho
Nas estrelas que acompanham este velho enjaulado
Num corpo cansado de ave sem ninho
De um jovem que navega e não recorda o passado
Aí me ausento de lugares e enfados
Dependo apenas dos meus braços e do mar
Por que o primeiro lutará por mim como escravo
E o segundo como amigo nunca há de me faltar.
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