Há no universo um regime único, uma lei maior, que alavanca tudo o que é físico: É a lei da ação e reação.
Sempre me pergunto se esta lei vale também para o que não é físico, para o que não podemos controlar. Se o afeto é uma reação, se o ódio é uma reação, o amor, o medo, o prazer, enfim, tudo o que sentimos ou acreditamos mesmo que não possamos tocar.
Consideremos então que o aprendizado do cérebro animal foi concebido para agir sob o sistema comparativo do mundo físico, ou seja, aprendemos cada coisa em nossa vida comparando-as e, por este motivo, o aprendizado é sempre dual: certo e errado, sim e não, faça ou não faça, peça ou recuse. Na construção do cérebro é considerada então a teoria da relatividade, lei das comparações.
Se este cérebro é capaz de aprender com os erros e acertos imagino que esta lei física automaticamente se transporta para o intelectual, afinal, por não haver outro meio de alavancar a vida e os sistemas físicos a não ser a lei da ação e reação. É fácil prever que, por conhecer e observar este sistema físico, o cérebro avance-o tanto para o lógico, racional, quanto para o ilógico, irracional.
Se isto é verdade podemos então verificar que a celebre frase da educação humana “não faça ao próximo o que não quer que seja feito a você” é um exemplo claro de ação e reação e, se pensarmos mais profundamente, também se pode dizer “faça ao próximo o que deseja que seja feito a você”, certo?
Em termos.
Diferente do sistema físico, matemático, o pensamento humano possui diversas respostas diferentes para as variadas situações e sua observação só é possível através da estatística. Diria que a máquina do pensamento humano, o conjunto do raciocínio, dos instintos e das emoções, é muito mais complexa que os conjuntos dos sistemas físicos que suportam o universo.
O conjunto “lógica + instinto + sentimento” traz ao universo do cérebro humano muito mais do que a simples ação e reação, pois uma única ação executada neste universo gera um grupo de reações que aborda tanto a lógica, quando o instinto, quanto o sentimento. Dessa forma, cada ação terá no mínimo três reações semelhantes, mas com forças diferentes.
Isto levaria a crer que seguir os conselhos “não faça ao próximo o que não quer que seja feito a você” e “faça ao próximo o que deseja que seja feito a você” é válido, pois aumenta estatisticamente as chances de que “fazendo o bem receba-se o bem, fazendo o mal receba-se o mal”, já que os fatores de estímulo positivo e estímulo negativo no conjunto podem aumentar as chances de a reação ser semelhante, mesmo que a força seja diferente.
Por não termos um mundo ideal em nenhum plano, o conjunto “lógica + instinto + sentimento” não possui equilíbrio e uma ação sobre ele será respondida pelas três frentes do conjunto com reação possivelmente semelhante, sendo que a força da ação não será igualmente distribuída, pois o conjunto “lógica + instinto + sentimento” não é ideal e está em constante movimento e variação.
Por não ser um movimento físico a reação não obrigatoriamente será contrária, podendo desencadear ainda uma reação em cadeia unilateral. Também podemos considerar que a aplicação de estímulo positivo ou negativo pode ser revertido em reação semelhante ou oposta, dependendo do equilíbrio do conjunto “lógica + instintos + sentimento” ou ainda de estímulos externos.
Um exemplo: Se você jogar uma bola na cabeça do seu amigo, com certeza a reação física será perfeitamente calculável considerando o atrito do ar, as condições atmosféricas, o peso e a força com que a bola será lançada. O choque contra a cabeça da pessoa se dará de forma tal que o impacto e trajetória podem ser perfeitamente calculados.
Porém, imagine que esta brincadeira física atinja-o logo após uma briga com os pais, ou então quando estiverem se divertindo numa guerra d’água e esta bola for uma bexiga cheia de líquido. As reações serão completamente diferentes, podem variar desde uma gargalhada até a perda de alguns dentes. Estímulos e ações externas podem provocar reações imprevisíveis no sistema.
Isso por que a sua ação única será recebida pelo conjunto “lógica + instinto + sentimento” e, no caso da briga com os pais, o sentimento será o fator de desempate do conjunto, que pode gerar uma reação com maior ênfase para este fator. Por outro lado, numa guerra d’água, por ser mesmo uma espécie de guerra, a reação pode ser instintiva com um contragolpe ou até mesmo sentimental, com uma bela gargalhada.
Com base nessa tese, imagino que a grande dificuldade de se compreender o sistema de reações psíquicas dos humanos seja algo ainda muito distante da nossa realidade por ser um sistema complexo, não ideal ou idealizável e que possui difícil comparação com os sistemas físicos, se é que pode ser comparado! Talvez isso explique também por que as pessoas venham se tornando cada vez menos envolvidas umas com as outras, já que nosso mundo dinâmico (fator físico e calculável) e tecnológico vem, cada vez mais, desenvolvendo nosso campo lógico neste conjunto em detrimento dos instintos, que são cada vez mais oprimidos, e dos sentimentos, que habitualmente são renegados.
A anomalia da tecnologia, que foi desenvolvida com o objetivo de ampliar as capacidades físicas e sensoriais humanas, como um auxílio à lenta biologia, gerou um descompasso do conjunto “lógica + instinto + sentimento” por aprimorar apenas os fatores físicos ligados diretamente à lógica, porém não os outros dois fatores. Instintivamente e sentimentalmente não somos correspondidos nem aprimorados pelas máquinas e isto me faz crer que o ajuste natural desta anomalia tecnológica reside ainda completamente fora desse meio, num campo não físico.
Isto provoca o visível aumento dos casamentos ruins, das traições entre amigos e amantes, das crianças impossíveis, dos jovens inseguros, das relações instáveis, dos laços solúveis, etc.
Um exemplo de ferramenta semelhante à tecnologia e que pode ser avaliada como a tecnologia do campo não físico é a fé. O conjunto de regras criadas pelas diversas religiões e doutrinas funciona como um sistema de aprimoramento tecnosentimental e tecnoinstintivo. Opa! Então quer dizer que a fé (à parte dos sistemas religiosos) é, na verdade, uma tecnologia do espaço não físico? Sim, é nisso que eu acredito. Os sistemas religiosos e crenças pessoais são anteriores à tecnologia, são intrínsecos e serviram de ferramenta para suportar os medos da morte (instinto) pelo inexplicável (escuro, fogo, tempestades, predadores, etc.) e os sentimentos que estes medos acarretavam enquanto a lógica ainda estava em desenvolvimento prematuro em nosso cérebro.
Imagino então como seriam dois mundos diferentes:
No primeiro as "tecnologias" aprimorariam nossos instintos, tornando-nos mais aptos a corresponder às nossas necessidades de sobrevivência, sexuais, proteção, etc. Ou seja, colocar Eros e o Instinto de Morte em relevância sobre a lógica e o sentimento.
No outro mundo, teríamos a "tecnologia" como ferramenta de aprimoramento dos sentimentos, mesmo os ainda não plenamente conhecidos ou definidos. Ou seja, compreenderíamos e responderíamos com maior rapidez e eficiência aos estímulos que nos fossem dirigidos.
Mas estes serão dois outros textos que estarão no Blog em breve...
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