segunda-feira, maio 16, 2011

2025


Chegou em casa devagar.
O relógio pesava uma tonelada da manhã.
Sentiu o corpo cansado demais para cair na cama.
Seguiu até a cozinha, mas o estômago negara a comida três vezes.
Queria uma bebida, a saideira. Esticou a mão numa cerveja.
Não sentia mais os pés. O corpo todo retesado de dor e cansaço.

Arrastou-se até o quarto para tirar todo aquele cinto apertado.
Jogou os pés contra os chinelos e os braços na camiseta surrada.
Pensou por um momento que aquilo não era vida.
Trânsito o tempo todo.
Subiu no sofá e ligou a televisão. Desligou a televisão.
Pensou em ligar para a namorada, mas já era tarde demais.

Dividiu a cama com mais pensamentos.
Ligou o aparelho para ouvir música. Desligou o aparelho.
Sentia dor em cada vértebra do corpo magro.
Não rezava mais por aquela rotina.
Amava o esforço que fazia todos os dias.
O namoro de final de semana e a cerveja com os amigos.

Não amava mais a cidade.
Sabia que o sentimento não era dele. Era urbano.
Levantou cheio de sede e tropeçando no banheiro.
Uma língua translúcida de cloro vasou pela torneira.
Caiu em desgraça o paladar, último bastião dos sentidos.
Já basta.