domingo, maio 29, 2011
Contrato
Devia existir uma cláusula no contrato da vida humana
Que proibisse um sentimento de não ser exprimido
Que permitisse não tornar a tristeza um crime
E que qualquer sentença fosse inferior à solidão
Haveria um meio de sentir-se triste
Sem torturar o coração alheio
Não seria necessário retrucar os anseios
Nem fazer do amor uma dívida depositada em juízo
As dores passariam com o tempo
Sem que ao menos alguém as visse
Ou seriam uma paisagem displicente
Como um navio que abandona o porto
Os casais se abraçariam num dia frio de inverno
Sentados muito juntos em bancos de praças
Assistindo o pôr do sol maravilhoso
Das dores que atravessam muito além do nosso corpo
Esta clausula garantiria a qualquer um do mundo
Que nunca mais se sentisse sozinho
Pois quem tem muitos iguais à sua volta
Nem sempre aprende a ficar em paz consigo
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