Existe em algumas pessoas um apanhado de gestos que cativam.
É forma gentil de falar, movimento leve e suave das mãos e o olhar firme que fazem destes um porto seguro para os olhos.
Não é necessário ser rico ou poderoso, mas possuir este conjunto de gestos de fino trato que tanto cativam a quem se aproxima.
Acho bonito verificar a desenvoltura dos olhares atraídos pelas pessoas de fino trato. Não é aquela mesma absorção que possuem os poderosos ou importantes, mas algo que vai além. É uma sedução elegante e imponente que parece possuir um perfume muito próprio, que nem mesmo as flores alcançariam jamais.
Observo com prazer respeitoso pessoas que possuem, cultivam e doam esta sensação aos outros. É bonito e é valioso como só.
O fino trato também está nos objetos, nas palavras e nas escolhas. Nos sons e nas cores de tudo que é classicamente belo. Naquilo que perdura anos e vence a concorrência das novidades, entregando-se apenas ao que é verdadeiramente bom.
Trata-se de um gosto requintado por ser verdadeiro e não obrigatoriamente forte. Pelo contrário, é suave, macio, sensível como água numa taça de cristal.
De tão perfeitamente belo é também misterioso e faceiro como máscaras em um baile. É este fino trato, que muitas vezes se esconde sob camadas de robustez sólida.
Gosto de falar desse sentimento quando observo alguém que simplesmente o possui. Não por que assim o deseja ou que o tenha conquistado com o tempo, mas por que recebeu em algum momento esta coerência irracional.
Gentileza que experimento alguns dias com os olhos. Noutros empunho despretensiosamente com palavras.
Este belo e fino trato.
quinta-feira, maio 27, 2010
segunda-feira, maio 10, 2010
Alegria Branca
Existe uma alegria que descobri em mim e que ninguém é capaz de devolver.
É uma tal cor nos olhos que fascina e dá uma vontade imensa de estar ali. Essa é a alegria branca que tenho. Aquela que me faz levantar correndo de madrugada ou aparecer do nada. Que socorre todos os sentimentos seus, sem compromisso com a realidade.
É um pouco daquele meu lado que gosta de surpreender e de surpresas que se vão e nunca voltam. Um sentimento que me dá de graça, sem pedir, e me deixa o coração faminto.
Mas descobri por esses dias que não há novidade na minha alegria branca. Eu sempre tive essa alegria de viver as coisas, os momentos, os sentimentos e as pessoas. Mas percebi também, faz muito tempo, que existe um mal nisso.
A alegria branca que contagia também dá fome de sentimentos.
E quem dela padece não se cura, pois é rara e não se encontra assim, ao vento. Quase não há nos amigos ou na família, nos irmãos e namorados. Dos amantes passa longe e não inverna. Para quem se entrega torna-se algo incurável.
Traz uma vontade imensa de participar e é por isso que a alegria branca parece tão bonita. Algo difícil de curar com meros sentimentos, que exagera nas pessoas e as vicia a buscá-la nas relações. Faz esperar muito tempo por alguém que troque e alivie esses pensamentos. É causadora dos corações infestados de revolta solitária, que não nos devolve aos sentimentos tradicionais, jamais.
Na maioria das pessoas ela se deposita nos olhos e só pode ser observada pelos outros, nunca entendida por quem a carrega. Em mim resolveu alojar-se no coração. Por isso já compreendi que os olhos dos outros, cheios de alegria branca indolor, se cruzam e se aliviam. Como é normal acontecer.
É uma alegria saudável e doente, que carrego no lugar errado, e que não encontrarei fora dos olhos de mais ninguém. Não que me impeça de ser feliz, de forma alguma. Muitas vezes essa alegria branca também pode ser muito boa para os olhos alheios, mesmo enquanto eu a carregar no coração.
Mas como olhos e corações não se cruzam nunca, o que será do meu coração?
É uma tal cor nos olhos que fascina e dá uma vontade imensa de estar ali. Essa é a alegria branca que tenho. Aquela que me faz levantar correndo de madrugada ou aparecer do nada. Que socorre todos os sentimentos seus, sem compromisso com a realidade.
É um pouco daquele meu lado que gosta de surpreender e de surpresas que se vão e nunca voltam. Um sentimento que me dá de graça, sem pedir, e me deixa o coração faminto.
Mas descobri por esses dias que não há novidade na minha alegria branca. Eu sempre tive essa alegria de viver as coisas, os momentos, os sentimentos e as pessoas. Mas percebi também, faz muito tempo, que existe um mal nisso.
A alegria branca que contagia também dá fome de sentimentos.
E quem dela padece não se cura, pois é rara e não se encontra assim, ao vento. Quase não há nos amigos ou na família, nos irmãos e namorados. Dos amantes passa longe e não inverna. Para quem se entrega torna-se algo incurável.
Traz uma vontade imensa de participar e é por isso que a alegria branca parece tão bonita. Algo difícil de curar com meros sentimentos, que exagera nas pessoas e as vicia a buscá-la nas relações. Faz esperar muito tempo por alguém que troque e alivie esses pensamentos. É causadora dos corações infestados de revolta solitária, que não nos devolve aos sentimentos tradicionais, jamais.
Na maioria das pessoas ela se deposita nos olhos e só pode ser observada pelos outros, nunca entendida por quem a carrega. Em mim resolveu alojar-se no coração. Por isso já compreendi que os olhos dos outros, cheios de alegria branca indolor, se cruzam e se aliviam. Como é normal acontecer.
É uma alegria saudável e doente, que carrego no lugar errado, e que não encontrarei fora dos olhos de mais ninguém. Não que me impeça de ser feliz, de forma alguma. Muitas vezes essa alegria branca também pode ser muito boa para os olhos alheios, mesmo enquanto eu a carregar no coração.
Mas como olhos e corações não se cruzam nunca, o que será do meu coração?
segunda-feira, maio 03, 2010
Carta Vinda
Encontrei uma carta muito bonita. Muito bonita de verdade. Foi escrita especialmente para mim.
Mas não foi uma carta pensada e repensada por alguém, dessas que navegam pelos correios até chegar ao seu destino. Foi uma que navegou de verdade e chegou aqui, mesmo sem saber que o seu destino era eu.
Era eu sim.
Fiquei surpreso e emocionado de tal forma que dela não consigo tirar os olhos até hoje. Nem quero. É uma carta bonita e caprichada. Cheia de um lado a outro com palavras que não parecem terem sido escritas, mas desenhadas.
Tão gentil quanto a beleza das palavras é o papel que as transporta. Resistente e denso, mas macio como o veludo. É também muito cheiroso e perfumado.
Cada palavra desta carta percorre seu papel com harmonia e, do começo ao fim, parece uma estrada reta, macia, daquelas de onde partimos com a total certeza de chegar lá, aonde quer que nos leve.
É o meu papel. Aqui escreveram a minha carta.
E o mais curioso é que, de todo aquele texto que se deita majestoso sobre o sublime papel, não entendo palavra. Não parece um texto complexo ou rebuscado, mas é texto dos que não se entende com esforço nem nada.
Não veio em língua de gente, veio em língua de carta.
Sem pena ou tinta de caneta, grafite ou carvão. Um texto legível como só, mas de tão bem escrito e cheio de alma, não possui tradução.
Pode buscar em livros e dicionários. Correr por todo o mundo buscando quem o decifre, batendo de porta em porta atrás das línguas mortas. Mas de morto esse texto não tem nada.
É preciso vê-lo para crer. Acreditem em mim. Este texto não mente.
É texto lógico que percorre caminhos. Chega para ser lido pela mente e acaba se alojando no coração.
Fiz que fiz para escutá-lo, mas acabei encantado. Como era pra ser. Como estava escrito.
E depois de percorrido esse caminho, meu coração, tão ridiculamente inocente, deixou a mente de lado e passou a buscar os significados desse texto, que apaga seu rastro da memória sem piedade. Faz o leitor esquecê-lo a cada palavra, antes mesmo de começá-lo.
Um texto que não quer ser compreendido.
E assim sofreu ingenuamente meu coração por não entendê-lo. Por achar que deveria. Por tanto tempo.
Um coração que não desiste daquilo que acha certo. Que precisava compreender esse texto a qualquer custo. Pensava como podia ser cruel um texto esconder tanto a sua beleza daquele que o quer tão bem.
Mas enquanto isso meu coração foi vivendo. Buscando compreender esse texto que não quer ser compreendido. Foi tratado e medicado pelo senhor tempo.
E hoje sabe que o texto que não deseja ser lido deve ser apreciado apenas. Deve ser acompanhado de perto, amado e querido para ser compreendido.
Foi quando meu coração finalmente entendeu. Meu ouvido se acalmou. Meus dedos encontraram o ritmo perfeito sobre as suas sentenças. E a mente concordou.
Que um texto que não quer ser lido não pode ser lido. Deve ser amado e compreendido apenas pelo bem que traz a sua beleza. Pelo dom de existir e ter-me encontrado.
O texto que não quer ser lido deve-se entender sem palavras.
Se não for assim,
Perde a poesia.
Mas não foi uma carta pensada e repensada por alguém, dessas que navegam pelos correios até chegar ao seu destino. Foi uma que navegou de verdade e chegou aqui, mesmo sem saber que o seu destino era eu.
Era eu sim.
Fiquei surpreso e emocionado de tal forma que dela não consigo tirar os olhos até hoje. Nem quero. É uma carta bonita e caprichada. Cheia de um lado a outro com palavras que não parecem terem sido escritas, mas desenhadas.
Tão gentil quanto a beleza das palavras é o papel que as transporta. Resistente e denso, mas macio como o veludo. É também muito cheiroso e perfumado.
Cada palavra desta carta percorre seu papel com harmonia e, do começo ao fim, parece uma estrada reta, macia, daquelas de onde partimos com a total certeza de chegar lá, aonde quer que nos leve.
É o meu papel. Aqui escreveram a minha carta.
E o mais curioso é que, de todo aquele texto que se deita majestoso sobre o sublime papel, não entendo palavra. Não parece um texto complexo ou rebuscado, mas é texto dos que não se entende com esforço nem nada.
Não veio em língua de gente, veio em língua de carta.
Sem pena ou tinta de caneta, grafite ou carvão. Um texto legível como só, mas de tão bem escrito e cheio de alma, não possui tradução.
Pode buscar em livros e dicionários. Correr por todo o mundo buscando quem o decifre, batendo de porta em porta atrás das línguas mortas. Mas de morto esse texto não tem nada.
É preciso vê-lo para crer. Acreditem em mim. Este texto não mente.
É texto lógico que percorre caminhos. Chega para ser lido pela mente e acaba se alojando no coração.
Fiz que fiz para escutá-lo, mas acabei encantado. Como era pra ser. Como estava escrito.
E depois de percorrido esse caminho, meu coração, tão ridiculamente inocente, deixou a mente de lado e passou a buscar os significados desse texto, que apaga seu rastro da memória sem piedade. Faz o leitor esquecê-lo a cada palavra, antes mesmo de começá-lo.
Um texto que não quer ser compreendido.
E assim sofreu ingenuamente meu coração por não entendê-lo. Por achar que deveria. Por tanto tempo.
Um coração que não desiste daquilo que acha certo. Que precisava compreender esse texto a qualquer custo. Pensava como podia ser cruel um texto esconder tanto a sua beleza daquele que o quer tão bem.
Mas enquanto isso meu coração foi vivendo. Buscando compreender esse texto que não quer ser compreendido. Foi tratado e medicado pelo senhor tempo.
E hoje sabe que o texto que não deseja ser lido deve ser apreciado apenas. Deve ser acompanhado de perto, amado e querido para ser compreendido.
Foi quando meu coração finalmente entendeu. Meu ouvido se acalmou. Meus dedos encontraram o ritmo perfeito sobre as suas sentenças. E a mente concordou.
Que um texto que não quer ser lido não pode ser lido. Deve ser amado e compreendido apenas pelo bem que traz a sua beleza. Pelo dom de existir e ter-me encontrado.
O texto que não quer ser lido deve-se entender sem palavras.
Se não for assim,
Perde a poesia.
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