quinta-feira, setembro 14, 2017

Uma breve análise sobre Arte e o caso Queermuseu + Santander

"Fonte", de Marcel Duchamp, 1917.


Uma Exposição de Arte não é composta apenas por objetos: quadros, esculturas, etc. Uma Exposição de Arte é a soma de suas obras + contexto. Existiu um cara no mundo das artes que nos provou isso causando um rebu tão grande quanto ou maior ainda do que o que vemos hoje no caso Queermuseu + Santander.

Certo dia esse artista, chamado Marcel Duchamp, decidiu comprar um urinol em uma loja e inscreve-lo como obra na Exposição dos Artistas Independentes de 1917. Naquela época este movimento também causou furor público. As pessoas repudiaram o objeto e os juízes da exposição não queriam por nada no mundo aceitar aquela coisa como uma obra válida.

Duchamp foi execrado, mas sua obra "Fonte" tornou-se a mãe da arte moderna. Isso porque o que ele queria mesmo com aquele feito era que as pessoas pensassem na seguinte questão: Isso é arte?

O trabalho de Duchamp foi um passo importante no caminho da reflexão ao extravasar justamente o contrário do que as obras propunham (ou eram) até aquele momento, já que as artes clássicas tratavam-se das obras por si, dos belos quadros e da escultura clássica, muito mais do que do contexto no qual estavam inseridas. Marcel Duchamp fez o caminho contrário e, ao apresentar um urinol numa exposição, introduziu ali um elemento que não tem nada de artístico, investindo apenas no contexto de estar em uma exposição de arte. O objeto deixou de ser e passou a estar. Um grito pela liberdade artística.

O artista alcançou seu objetivo e até hoje refletimos a respeito.

Voltando ainda mais no tempo, outro artista chocou o mundo das artes ao realizar uma pintura realista do ventre e da vagina de uma mulher - em posição bastante audaciosa – e chama-la de “A origem do mundo”, tudo isso no ano de 1866. Gustave Coubert atendia a uma encomenda com um objetivo e, vamos reforçar, isso aconteceu em 1866! Coubert era odiado pela Academia e lutava bravamente contra o “puritanismo renascentista”. E é preciso lembrar também que a obra está aí para todos verem, exposta até hoje no Musée d’Orsay, em Paris, na França, sem censura.

Porém, quando falamos destes casos, estamos introduzindo aqui exemplos que foram pensados como um todo, artistas que investiram em chocar o público somando arte + contexto de forma crítica, nos fazendo pensar ao longo dos séculos.

Assim como no caso Queermuseu + Santander, temos de levar em consideração que obras chocantes demandam ainda mais investimento no quesito contexto.

O erro da recente exposição me parece óbvio: Descontextualizar as obras e jogá-las no colo de um país onde 96% da população não frequenta museus e 93% nunca foi a uma exposição de arte (Fonte: IBGE), agravado ainda pela indicação de “exposição para o público jovem”.

Puritanismo à parte, é importante salientar que os números citados tornam bastante clara a necessidade de abordar certos assuntos de uma forma diferente. Chocar não é o problema, o problema é não atingir e reflexão do público na sequência.

Neste sentido, analisando criticamente, faltou atenção e discernimento por parte dos promotores para lembrar que uma exposição não se trata apenas de “juntar obras interessantes ou importantes”, o objetivo da arte moderna é nos fazer pensar, sentir e vivenciar, inclusive quando fora dos padrões sociais, de forma crítica. Ler corretamente o público é tão importante quanto a exposição das obras em si.

Se o público não compreendeu a exposição como um todo, então houve um erro, inclusive artístico. Quando a reflexão é trocada pelo ódio, pela repulsa pura e simples, perde-se o objetivo da exposição.

Afinal, o objetivo da arte moderna é chocar ou nos fazer pensar?

Dica: Para quem deseja compreender melhor a arte moderna e suas motivações, indico o excelente livro "Isso é arte?", do Will Gompertz, publicado no Brasil pela editora Zahar.

terça-feira, agosto 08, 2017

Acidentes



Meu sonho é um dia viver do que acho belo
Aquele momento fugaz que só a arte permite
Viver daquelas músicas, daqueles quadros, daqueles versos
Quero eu viver do que acho mais verdadeiro

Mas para isso existem também as horas vagas
Aquela saída do escritório com fones de ouvido
Aquela viagem de carro cantando alto
Aquele passeio pelas ruas, becos e avenidas

Cheios de arte

Sonho um dia ter, ao mesmo tempo, do meu jeito
Uma galeria onde possa viver de arte
Onde a música fluirá o dia inteiro
E a literatura será arejada

Aquele lugar que se esconde no canto mais alegre da mente
Aquele momento onde a felicidade é tudo que se ama
Uma galeria para a mulher da minha vida
Uma galeria para os filhos que a arte me der

No acidente dos destinos

Quero muito mais do que apenas isso
Aquele desejo de riso fácil e paz de espírito
Tomar meu drinque sem culpa nem piedade
Ler e escrever com o coração leve

Quero bichos e quero plantas
Plantas que não cansem de vento e água
Uma alegria que não caiba em mim
Tomar o espírito que me faz tão completo

Ter muito mais do que versos

Mas existem também as horas vagas
Aquele jantar com vinho e boa mesa
Uma pessoa que vai além das saudades
Uma passeio pelas ruas, becos e cicatrizes

Viver do que acho mais verdadeiro
Um sorriso que surge do choque dos copos
O aroma e a paz de espírito dos corpos
Poder viver do ar livre das ruas e do que acho mais belo

No acidente daqueles versos cheios de arte

quinta-feira, fevereiro 16, 2017

Um pouco de sarcasmo



O sarcasmo é algo que as pessoas usam muito e entendem pouco.

O sarcasmo é uma ferramenta muito útil nas mãos de quem sabe usá-lo. Quando lemos um livro de um grande escritor como Edgar Allan Poe ou Ernest Hemingway percebemos que, vez por outra, eles fazem comentários sarcásticos de forma perspicaz. Quando usado de forma comedida e precisa, o sarcasmo permite introduzir uma informação mais pesada ou uma crítica pessoal, amenizando um possível desconforto do leitor. O sarcasmo permite cutucar de leve, bater com luva de pelica, introduzir um assunto complexo ou polêmico sem dar a ele o peso da verdade nua. Mas o sarcasmo não se sustenta sozinho, por isso precisa ser usado com perspicácia para fazer sentido dentro de um contexto.

Atualmente estamos nos acostumando a encontrar sarcasmo em todas as frases da Internet. 

Sempre que uma passoa quer fazer um comentário a respeito de uma opinião diferente da sua, com a qual não concorda, utiliza o sarcasmo como forma de diminuir a importância do fato, tentando transformar seu sarcasmo em argumento. 

O que as pessoas não percebem é que o sarcasmo não é um argumento. Ele continua sendo apenas um "tapa de luva de pelica". O sarcasmo não é a opinião em si, é apenas uma forma de apontar o dedo para o outro se escondendo atrás do humor, que muitas vezes não se encontra naquele contexto. 

Quando utilizado na hora errada o sarcasmo deixa de ser perspicaz para se tornar apenas uma provocação irritante, daquelas que você faz quando é adolescente e inseguro.

Isso acontece porque as pessoas não têm realmente uma OPINIÃO para colocar. Querem apenas apontar o dedo para um fato com aquela intenção de "olha só como isso é ridículo". É como dizer o tempo todo "eu te avisei" ou "sabia que ia dar errado". Para isso as pessoas lançam mão destas "luvas de pelica", que ferem, mas não resolvem nada. 

Problema maior acontece quando o outro lado revida, aí tudo vira uma guerra ridícula de provocações, sem nenhum dos lados correrem o sério risco de apanhar. Nada se resolve. O intuito não é chegar a uma solução, apenas ferir, irritar, provocar.

Então, meu amigo, se esconder atrás do sarcasmo demonstra duas coisas sobre a sua opinião:
1) Você não confia que ela seja boa o suficiente para sobreviver a um debate;
2) Ou você é simplesmente medroso.

Em qualquer um dos casos sua opinião deveria ser guardada para você mesmo. Ela não vale a pena.

Se o sarcasmo serve para alguma coisa quando usado na hora errada é tirar toda a sua razão.

Agora, se você acredita na sua opinião e deseja torná-la pública mesmo assim, então faça isso com seriedade e CORAGEM. 

Tenha coragem de opinar e ser criticado. Tenha coragem de jogar a pedra e não sair correndo para se esconder atrás do sarcasmo, mesmo sob o risco de ser apedrejado também.

Pouquíssimos são aqueles abertos a escutar e compreender o outro lado, abertos a serem contrariados, porque as pessoas querem ter razão e não resolver os problemas. É fácil usar o sarcasmo a torto e a direito, o difícil é formular argumentos, ser sincero e encarar as consequências de ter uma opinião de verdade.

Coragem, meus amigos.

segunda-feira, janeiro 30, 2017

E cheguei lá!



Antes do fim do primeiro mês alcancei a marca dos 10K e estou muito feliz!

 Numa semana que começou com a perda de um grande colega, alcançar um objetivo pessoal tão desafiador tem muito significado.

 Pode parecer uma coisa meio boba e superficial, mas quando você passa a vida toda lutando contra a balança, contra as dificuldades físicas, contra um acidente doloroso que me tirou da linha e das competições que eu tanto amava, contra o 'status quo' que me mantinha em casa, as conquistas mais simples, como esta, são espetaculares!

 Para quem começou no dia 02 de janeiro, subindo o ritmo e a distância bem devagar, chegar aos 10K no dia 30 é bem legal. Quando a cabeça disse não eu a convenci, quando o corpo disse não eu o respeitei e todos juntos alcançamos esta marca bacana e desafiadora, sem dor, sem pressa, apenas com muito esforço e equilíbrio.

 Mas por que a foto do Baguera?

 Porque descobri neste cachorro velho e preguiçoso, que vive esparramado por aí, dormindo ou vadiando, o melhor companheiro de corridas que já tive na vida.

Todos os treinos que fiz quando estive aqui no sítio ele acompanhou bem do meu lado, evitando me atrapalhar, avisando quando vinham carros na rua e até latindo quando eu estava devagar demais.

Apesar de eu ser tão general com ele, de uma ou outra bronca até ele parar de correr atrás das motos, das ordens severas para ficar junto, sempre está na porta quando eu saio para me alongar antes da corrida, ou então me recebe com uma alegria maluca quando eu chego de São Paulo, pronto para mais uma corridinha de fim de tarde.

 E toda vez que voltamos para casa ele senta na minha frente, espera eu me alongar novamente e depois fazemos este "hi 5" aí, super satisfeitos! Inclusive hoje, depois de 10K de corrida na serra! 

Grande Baguera, atleta canino e meu cachorro querido!

Bora pra pista! Rumos aos 21K nos próximos 6 meses!'

segunda-feira, novembro 24, 2014

Toulouse-Lautrec 150



Hoje, 24 de novembro de 2014, Toulouse-Lautrec comemora seus 150 anos.
Não foi apenas um patrono, mas um dos pais da economia artística, das artes gráficas e publicitária.
Mas reconhecer Toulouse-Lautrec apenas por isso é muito raso.

Que espírito tinha para representar a boemia de Paris, cheia de escárnio!

Seus personagens parecem rir e sentir pena de nós (observadores), tirando sarro bem na nossa cara.
Seus feios amantes e salientes prostitutas retrataram a realidade que não conseguimos ver.
Ver hoje.

Aqueles rabiscos em cartão são quase uma piada à realidade dos bares e prostíbulos da França do final do século XIX.
Os olhos tristes e tortos de homens e mulheres encerram o preconceito lá dentro, em nossa piedade.
E, sem percebermos, lá estão eles rindo de nós e da nossa piedade novamente.

Suas prostitutas são tão elegantes quanto suas damas. Por vezes mais.

Pudera eu ter o seu espírito nos dias de hoje para fazer um retrato tão digno e cômico dos nossos tempos.
E rir do mundo junto com Toulouse-Lautrec.
Um dos meus pintores favoritos? Sim. Um realista cômico-boêmio de botequim com alma de economista, certamente.

Não há máscaras na arte deste incrível pintor. Sua visão queria ser nossa realidade.
Aceitando bem o que tem; Querendo ser nosso mundo apenas quem é.
Pudéramos nós vivermos em um mundo desenhado por Toulouse-Lautrec.

Fica aqui minha homenagem ao homem que foi arte.

terça-feira, julho 01, 2014

A Lenda do Golem Josef de Praga

*Tradução

Sempre fui muito interessado em ficção científica, lendas, mitologias e, principalmente, nas suas origens. A lenda do Golem Josef talvez seja uma das mais importantes e menos conhecidas no ocidente. Trata-se de uma das primeiras aparições de um autômato na história e na estória da humanidade. Isto pode ser apontado também como um dos vetores importantes das moderníssimas histórias de robôs, extra terrestres e outras criaturas humanóides ou, ao menos, auto-suficientes. Na Lenda do Golem de Praga é possível encontrar diversas insinuações que, posteriormente, se tornaram um padrão para personagens monstruosos e robóticos e que vou discutir melhor como curiosidades ao final do texto.

Como nunca encontrei uma boa tradução da lenda - ou ao menos nunca uma tradução que trouxesse as diferentes versões da história! - decidi realizar eu mesmo uma tradução e incluir aqui todos os detalhes que já encontrei a respeito da lenda. Para não perder esta característica de levantamento histórico, inseri as diferentes versões dentro do mesmo texto. Aí cada leitor pode escolher a versão que achar mais interessante e contá-la ou trabalhar com ela como quiser.

Questão de crença

Existem muitas lendas sobre o Golem e outros autômatos, mas talvez a mais conhecida seja a lenda do Golem de Praga, uma narrativa que remonta ao século XVI e envolve o rabino Judah Löew ben Bezalel (1520-1609), o Maharal de Praga.

Essa história se passa à época do imperador da casa de Habsburgo, Rudolph II, que era tão fascinado pelos estudos arcanos que mudou residência para Praga, que era mundialmente conhecida à época - e ainda hoje! - como centro de estudos da magia negra, alquimia, astrologia, necromancia, cabalismo e outros campos do misticismo. Até mesmo Dr. Fausto foi reportado como tendo vivido em Praga.

O Golem é claramente uma das mais famosas "personalidades" que andaram pelas ruas de Praga. Porém, sua fama é a única coisa realmente clara a seu respeito. Sinceramente, sua existência é muito discutida e logicamente questionada. Ainda assim a lenda do Golem pertence à Praga e não seria o misticismo uma das coisas mais inerentes a esta cidade?



A Lenda do Golem

O respeitado Rabino Löew era conhecido como um dos portadores de poderes mágicos que combinavam os quatro elementos: fogo e água (na lenda, representados pelos seus assistentes), o ar (o próprio Rabino) e a terra (o Golem, feito do barro), que permitiam ao rabino vitalizar esculturas feitas de barro.

Na época, apesar de ser a época do império do iluminado Rudolph II, os judeus sofriam diversos ataques e retaliações anti-semitas. Para proteger o Quarteirão Judeu, o Rabino Löwe decidiu criar então o Golem Josef - também conhecido como Yossele - moldando a argila que ele buscava nas margens do rio Vltava e trazendo-a à vida através de rituais e encantos hebreus. O Golem teria os poderes necessário para cumprir a tarefa de proteger a comunidade.

Para ser um protetor ainda melhor, seu mestre lhe deu um colar especial feito de pele de cervo contendo runas e inscrições místicas. Com este ornamento o Golem se tornava invisível e até invocava espíritos dos mortos. E, por ser um trabalhador duro e eficiente, ele também ajudava o Rabino Löew a cuidar da sua casa, da sinagoga, limpava as ruas, carregava água e cortava lenha, por exemplo.

Você provavelmente já deve ter ouvido sobre os Golens como criaturas gigantes, amorfas e grotescas, que lembram apenas vagamente algo humanoide. Isso foi ainda reforçado pelo cinema, graças ao famoso filme checo sobre Rudolph II. Porém, de acordo com a lenda, Josef era, a primeira vista, idêntico a um homem qualquer. A única coisa que lhe faltava era a habilidade de falar.

Segundo versões da lenda, caso o Golem recebesse a dádiva da fala ele teria, então, uma alma. Por isso foi desprovido deste benefício.

Existia ainda um outro detalhe a respeito do Golem: Ele "vivia" somente se fosse colocada em sua boca (ou nuca, em outra versão) uma shem (cápsula ou placa) com inscrições mágicas que lhe davam a vida. Porém, aos sábados, esta cápsula precisava ser removida por causa do dia sagrado do Sabbath judeu. Então, nesse dia, o Golem descansava no sótão da sinagoga.

Assim se passou muito tempo, com o Golem defendendo o Quarteirão Judeu e executando muito bem os seus trabalhos diários com o Rabino Löew. Por ser feito de barro ele não tinha as necessidades de comer, beber, não reclamava de nada e era praticamente incansável para o trabalho. Era extremamente forte e destemido, então podia proteger como ninguém a comunidade.

Porém há o lado negro desta lenda. O Golem foi ficando cada vez mais e mais forte e, ao invés de heroico e útil, o ser veio a se tornar incontrolável e, dizem, até destrutivo.

Um dia o Golem foi avistado descontrolado, em fúria, arrancando árvores do chão. O Rabino Löew estava na sinagoga recitando o 'salmo noventa e dois' quando foi interrompido pelos cidadãos para ser avisado sobre o ataque do Golem. Ele saiu em disparada para remover a placa da vida de sua boca e, por este motivo, até hoje a sinagoga de Praga é a ÚNICA do mundo onde se repete o 'salmo noventa e dois' duas vezes, por conta dessa interrupção.

Na versão mais conhecida da lenda, o Rabino Löew esquece de retirar a cápsula da boca (ou nuca) do Golem numa sexta-feira à tarde e o ser, já extremamente forte, acorda no sábado, fica descontrolado e acaba por arrancar árvores do chão e destruir tudo em sua frente com muita violência, inclusive pessoas.

Noutra versão o Golem se apaixona pela filha do Rabino Löew, que o rejeita. Temendo por sua segurança, ele decide desativar o Golem, que se descontrola por causa da rejeição, pondo em risco a vida de sua família.

Em uma outra versão ainda, o Golem era tão efetivo defendendo o quarteirão judeu que reclamações chegaram até os ouvidos de Rudolph II. O Rabino Löew foi então convocado ao Palácio Real de Praga para uma audiência no meio da noite com o imperador. O propósito deste encontro nunca foi revelado - e ele realmente aconteceu! -, mas acredita-se que Rudolph II ofereceu ao Rabino Löew um acordo: Se o Golem fosse desativado permanentemente, o imperador garantiria a segurança contra qualquer ataque futuro ao quarteirão judeu. 

Em todos estes casos, a conclusão da lenda é a mesma:

O Rabino Löew consegue convencer o Golem a se acalmar e descansar no sótão da sinagoga, onde ele geralmente era desligado às sextas-feiras e, durante o sono do ser fantástico, o Rabino e seus assistentes conseguem remover a cápsula de sua boca (ou nuca). 

Noutra versão, eles conseguem desativar o Golem em frente à sinagoga, alterando a palavra "anmauth" (verdade), inscrita no shem, pela palavra "mauth" (morte), apenas apagando a sílaba "an". Com isso o Golem desmonta em frente à sinagoga e seu corpo é exilado no sótão do prédio. 

O corpo do Golem teria ficado no sótão para ser reativado caso necessário. Para garantir que ninguém mais o veria, a escada do sótão da sinagoga foi removida. Mas, temendo a curiosidade alheia, dizem ainda que depois de algum tempo de paz o Rabino Löew decidiu enterrar o Golem num túmulo no distrito Žižkov para sempre.

Este foi o fim do Golem, que nunca mais foi revitalizado.

Curiosidades sobre a lenda

Uma curiosidade é que até pouco tempo o sótão da sinagoga de Praga era proibido de ser acessado e, para garantir seu banimento e que ninguém o acessaria, a escada para o sótão foi removida da sinagoga por centenas de anos. Numa recente abertura por conta de uma restauração do prédio em 1883, não foi encontrado nada no famoso sótão. Há rumores de que o próprio rabino, temendo a curiosidade alheia, decidiu enterrar o corpo do Golem num túmulo no distrito Žižkov de Praga.

Outra curiosidade é sobre o encontro à meia-noite entre o Rabino Löew e o imperador Rudolph II. Ele realmente aconteceu, porém, historicamente, o encontro aconteceu por que o Rabino Löew descobriu que o imperador estava tendo um caso com a beata esposa do prefeito. Como já dito, não se sabe a verdade.

A história do Golem Josef de Praga é uma das mais conhecidas lendas e, supostamente, foi a inspiração para as histórias de robôs e rebeliões de autômatos que surgiram no futuro. Isto é reforçado pelo fato de que o termo "Robô" foi introduzido nas línguas do mundo em 1921 por dois irmãos checos, Joseph e Karel Capek (cha pek), que moravam em Praga. A distinção conceitual de "robôs" e as outras máquinas vêm da capacidade dos robôs de ajustarem suas ações em relação às circunstâncias.

Algumas lendas conhecidas também foram, supostamente, inspiradas no Golem de Praga: "Dr. Frankenstein e seu monstro" (que não tinha o poder da fala), "O Aprendiz de Feiticeiro", "O Corcunda de Notre Dame" (que se apaixona pela bela Esmeralda), O Hulk (que originalmente também é privado da fala e se descontrola) e até mesmo o robô HAL de "2001: Uma Odisseia no Espaço" (criado por humanos e perde o controle, subjugando-os).

*Tradução de Eilor Marigo

quarta-feira, maio 07, 2014

BRASIL, UMA REFLEXÃO PRESENTE



É incrível como o bem e o mal não fazem mais diferença. E isso só acontece a um povo quando não há mais esperança, quando ninguém mais acredita em mudanças.

Parece mais do mesmo nesta coluna do Jabor. Ao mesmo tempo é e não é. Ele não fala nada que já não saibamos, mas parece realmente que nada mais nos atinge, nos comove. 

A falta de liderança competente dos últimos anos nos deixou tão perdidos que continuamos flutuando na onda do progresso gerada no governo FHC... uma onda que percebemos, mas ainda não queremos acreditar, que já passou! Agora ficamos aqui, no marasmo, sem um qualquer vento que abane as velas do navio Brasil, que não anda.

O governo brinca, a iniciativa privada já baixou a guarda e nós, cidadãos, somos esculachados a cada dia por mais impropérios, mais impostos, mais promessas e mais pronunciamentos presidenciais que, SABEMOS, não são reais. Eles não nem enganam! Nem precisam se esforçar para isso. 

E por que não nos mexemos? Por que somos cachorro morto. Somos soldados famintos que preferiam combater de barrigas vazias ao invés de esperar a lenta morte, mas não enxergam a guerra... "Que se acelere a crise", pensamos em desespero nos ônibus lotados - como afirmou Jabor - mas a crise já está entre nós e não há energia para lutar. Minha geração não sabe nem mesmo pelo que ou como lutar!

E esse é o problema maior. A geração que hoje forma a força de trabalho, que vai suceder o poder político e privado, que está em vias de assumir o Brasil, já nasceu nesse marasmo. A guerra terminou quando ainda tínhamos 10 anos de idade. Não vivemos as crises, não sabemos pelo que lutar. Qual é a realidade que devemos buscar, não é essa mesmo de agora!? Ah, não sabia não... sei que chamam de alienação...

As pessoas sabem que não está bom, mas também não sabem "que bom é esse" que devemos buscar! Ou como.

E é nessas horas que algumas pessoas - assustadoramente! - olham para trás. Ditadura é um mal terrível. As pessoas pensam nisso não por que não lembram como ela funciona, mas por que esse marasmo é tão desesperador que a chance de ter algo contra o que lutar já parece sedutora. Fomos forjados para sermos soldados, mas não temos guerras.

Somos espartanos sem inimigos, ou pior, temos uma falsa paz que não satisfaz. Somos a cria perdida de toda uma história de luta; fortes, prontos, mas que não sabem onde acontece a batalha. É como se sente um garanhão logo após a castração, um galo de rinha nunca tirado da gaiola, etc.

Sempre tive e sempre terei esperança de mudança, mas vejo tantos que pensam de forma inconsequente: "que essas mudanças venham como vierem". Que as mudanças cheguem em batalhas se necessário, sejam elas nacionais, internacionais, políticas, ideológicas, físicas... ou todas juntas; numa guerra civil ou levante popular.

A gente quer algo melhor, claro, quem não quer algo melhor... mas o que é melhor?

Não sabemos. E, talvez ridiculamente, minha esperança está no fato de que ao menos sabemos que não sabemos.

E por isso mesmo é fácil enxergar, tanto na visão do cientista quanto na do experimento, ao menos uma coisa:

Dói não ter futuro, mas dói ainda mais não ter presente.

terça-feira, dezembro 24, 2013

2014 simplificado



Em 2013 escutei muita reclamação de que o ano foi complicado, que muita coisa deu errado.

Então em 2014 tenho uma proposta para quem quer começar um ano melhor, que não tenha torcida para terminar logo: 

Talvez simplificar seja a resposta.

Vamos simplificar o ano a partir de agora. Vamos trocar os presentes de natal pela família unida e pela fartura de alegria.

Vamos simplificar o trânsito com calma, com a gentileza e a inteligência de quem quer mais do que isso da vida.

Vamos viajar mais e mais longe, simplificando o longo tempo que temos ainda.

Podemos mudar ainda hoje os preconceitos e os medos, chutar o balde de vez em quando, aceitar que fazer diferente pode ser uma saída.

Simplificar as inovações e as tecnologias pelo contato pessoal e estar junto no dia a dia, sair de casa para trabalhar com tanta frequência quanto estar com a família.

Cultivar um estilo mais simples em você mesmo, investir onde realmente vale a pena, colocar tempo e dinheiro em educação e guardar com disciplina.

Descomplicar aquela necessidade de consumir levando uma boa conversa para os encontros com os amigos, para solucionar os antigos embaraços de família ou para caminhar no parque pensando alto, falando sozinho, quitando as próprias dívidas.

Vamos abandonar aquelas brigas, aquela desunião da família, aquela distância dos amigos. Vamos descomplicar o ‘talvez’ pelo ‘sim’ ou pelo ‘não’.

Deixar de lado as dores e as amarguras de 2013 pisando com o pé direito em 2014, pulando as 7 ondas que te afogaram no último ano, curtindo mais e mais cada minuto. Vamos simplificar a tristeza da rotina fazendo coisas novas todos os dias.

Se você perder o emprego ou cansar de quem não cresce ou faz crescer, não se culpe ou se desculpe, dá para simplificar começando outra vez e encontrando dignidade na saída.

E já que ninguém quer complicar até a morte, que comecemos simplificando desde já as nossas vidas.


Boas festas!

quarta-feira, julho 24, 2013

Trees

Obra de Hal Lasko*

I THINK that I shall never see  
A poem lovely as a tree.  
  
A tree whose hungry mouth is prest  
Against the sweet earth's flowing breast;  
  
A tree that looks at God all day,
And lifts her leafy arms to pray;  
  
A tree that may in summer wear  
A nest of robins in her hair;  
  
Upon whose bosom snow has lain;  
Who intimately lives with rain.  
  
Poems are made by fools like me,  
But only God can make a tree.

- Joyce Kilmer. 1886–1918

*Esta obra de arte é do artista Hal Lasko, um designer americano de 97 anos que produz suas obras utilizando o Microsoft Paint desde sua aposentadoria.
Conheça seu trabalho: http://hallasko.com/collections/prints

quinta-feira, junho 06, 2013

Pont des arts, Paris, França

Amar não é uma carência, nem uma dívida ou obrigação

Amor não é uma cela, uma corrente, um cadeado cerrado

Amar é um laço de fita sem nó nem amarração

O amor tem que ser simples e fluído como desenhar um coração

Um laço que se puxa e se desfaz 

Mas que liberta quando atado

Senão não é amor

Senão não há razão