terça-feira, janeiro 18, 2011
O Mundo é de Quem?
Já há muitas gerações nasceu uma máxima humana que permanece causando confusão nas nossas cabeças:
“O mundo é dos espertos”
Para ser sincero não sei dizer desde quando este pensamento existe e qual foi o responsável por disseminá-lo pela humanidade. Mas sei dizer que faz muito tempo, já que Maquiavel escreveu em seu livro “O Príncipe” - um guia sobre como governar para reis e déspotas - sua máxima: “os fins justificam os meios”, que já doava muito do seu significado à idéia inicial.
O que não percebemos a tempo é que esta foi a idéia capaz de transformar o homem no lobo do homem e que passamos a viver no verdadeiro mundo cão. Mundo onde vence o mais esperto.
O esperto é o sujeito que tira vantagem de tudo, que é malandro e leva a vida no bico. O esperto brasileiro, por exemplo, nunca foi tão bem retratado quanto pelo charmoso personagem Zé Carioca, de Walt Disney.
O papagaio que levava todos os outros personagens no bico. Era um bajulador e um encantador. Vivia fugindo dos cobradores e enganando todo mundo para levar alguma vantagem.
Agora imagine um mundo formado somente por Zé Cariocas: Pessoas que desejam chegar primeiro em todos os lugares, andar mais rápido que as filas, cobrar dos outros muito além do que estão dispostos a oferecer, ou pagar.
Não parece bom.
E não é.
Hoje fazemos parte de uma sociedade que aparenta ser muito conectada, mas que se isola por necessidade. Abrimos as portas do mundo virtual para não precisar compartilhar o que é nosso no mundo físico.
Permitimos que vejam e julguem nossas palavras, mas não os nossos gestos.
O mundo dos espertos ficou, por culpa não se sabe de quem, cheio de lixo e desconfiança. Acreditar no próximo é cada vez mais difícil e apenas as situações extremas devem ser levadas em consideração, afinal, estas chamam atenção.
Preferimos desconfiar dos governos a entendê-los. Mais ou menos como fazemos com os nossos amores também...
Somos um bando de gente que se reúne para falar mal da falta de ação dos políticos, que reclama dos desastres naturais e do trânsito nas cidades. Mas qual é o nosso papel além de reclamar?
Pois é muito fácil dizer que não importa em qual candidato votamos nas eleições, por que todos são safados. É fácil afirmar que o trânsito é caótico nas cidades e, ao mesmo tempo, depositar nossos votos em palhaços ou pegar o carro e sair fechando todo mundo para mostrar quem manda na rua.
É o mundo fácil do bullying nas escolas e faculdades.
É muito mais fácil viver estressado e não pensar direito.
Não pensar nos outros. Não pensar nem mesmo nas conseqüências de todas estas coisas que fazemos automaticamente, por que somos muito espertos!
Pensar nos outros, por sinal, não significa ficar indignado e se lamentando com as tragédias que acontecem no mundo. Ficar com pena e defender quem sofre depois que tudo acontece.
Pensar nos outros é pensar ANTES.
É aquele ato de cidadania de quem não joga lixo nas ruas, faz doações regulares para ajudar os que precisam, aceita idéias e sugestões diferentes das suas, auxilia um estranho e dá espaço para o idoso sentar no ônibus ou na fila do hospital, da mesma forma que gostaria de receber as gentilezas em retorno um dia.
É o gesto cotidiano do voluntário.
É o ato daquele que levanta a bunda do sofá e vai até lá. Ajuda, socorre e doa. Depois senta e fica quieto. Não precisa mostrar para ninguém sua indignação, apontar dedos ou recriminar quem pensa diferente.
Acho estúpido ficar comentando as coisas junto com a mídia. Reservo-me o direito de fazer minhas preces, meus votos e minhas doações em silêncio, de forma totalmente particular. Não daquela maneira espalhafatosa de quem confunde “ajudar o próximo” com “ter pena daquele pobre coitado”.
É uma coisa linda nosso mundo de Zé Cariocas, onde todos precisam tirar vantagem e depois ficam chorando as pitangas quando o mundo se estrepa.
Quem é esperto não precisa de direitos, dá um jeito;
Quem é esperto não depende de ninguém, engana;
Quem é esperto não precisa respeitar, despista;
Quem é esperto não tem palavra, tem língua;
E assim por diante...
Quem dera o mundo fosse dos justos e sensatos, não dessa horda de espertos.
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Um comentário:
Aprofundando ainda mais, o que significa "O mundo é...?"
Qual é a real vantagem que o esperto leva?
Chega mais cedo por ultrapassar pelo acostamento as custas de um risco de vida maior para ele mesmo?
Ele também não fica preso na inundação que a latinha dele provocou?
O tempo que o Zé Carioca leva para despistar os credores não estaria rendendo mais se fosse simplesmente aplicado em trabalho?
Aos 55 anos, não conheci nenhum "esperto" que não fosse um atormentado com seus próprios problemas, tenso e concentrado em não deixar ninguém se aproveitar dele, com um filho de bom senso que já o chamou de "bandido" algumas vezes. Não sorri para não passar por bobo. Não relaxa nunca pois precisa vencer...
Na minha opinião, os "espertos" são pessoas de baixíssima auto-estima que morrem de medo de passar por bobos, e para isto, se apresentam e se acham melhores do que os outros. Pisam para não serem pisados, estão sempre em guarda mas, lá no fundo, morrem de medo de fracassar.
Espertos, na verdade, são grandes otários!
Eilor A. Marigo.
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