Existe dentro de cada pessoa uma cidade.
Um lugar perto ou distante, com cheiro de Belfast ou Manhattan, onde pode-se dividir uma torta de maçãs com os vizinhos ou nem ao menos saber seus nomes.
Para alguns esta cidade está à beira de um pântano salgado, com o cheiro taciturno e rude do lar. Para outros é uma metrópole abarrotada de buzinas e sapatos ligeiros, banhada por de um mar de futuro.
Suados pescadores trabalham em barcos camaroneiros e belas moças chafurdam em lojas entre rapazes engravatados e gentis. São lugares sólidos ou sórdidos, de pesares, pensamentos e devaneios.
Todo fato é livre de sentimentos e todo sentimento guia-se pelas placas das ruas e avenidas até seu destino.
Muitos podem habitar esta cidade para torná-la apenas sua. Os mais diversos cidadãos de cartolina, valiosos como um novíssimo bilhete do metrô, ou apenas gentis fazendeiros e rendeiras que constroem seus dias a passos de formigas.
São poucas as pessoas a quem se deve apresentar sua cidade. Trazemos para ela apenas aqueles que são merecedores desse crédito, justificados por nós mesmos.
Vez por outra é difícil encontrar alguém que realmente valha a pena levar para sua cidade para dividir uma torta de maçã ou fumar um cigarro.
Não raro, parece impossível encontrar quem realmente mereça conhecê-la.
Então o lugar torna-se muito próprio. Um poço impróprio de almas de cartolina.
E fica muito fácil perceber que os dias são muito solitários.
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