Não se sabe há quanto tempo aquele homem navegava.
Sua pele não era nem preta nem branca, mas lustrosa no bronze tropical e manchada pelo sol. Seu corpo era velho mas estranhamente musculoso. Arqueado pelo tempo e endireitado pelo esforço.
Seus olhos não. Estes eram vivos como o mar e capazes de iluminar qualquer estrada, seja dia ou noite.
Sobre o barco não convém afirmar se grande ou se pequeno, se de vela alva e lisa ou manchada de retalhos, se largamente tripulado ou duramente solitário. É barco.
Certo dia, o homem percebeu que seu norte estava a leste. Três anos luz a leste de todos os outros nortes que existiam.
Sentou ao comando e meditou sobre sua situação: Rumar para o norte poupando o velho corpo, aproveitando os bons ventos para lentamente apontar a proa a leste, ou responder aos anseios dos jovens olhos e guinar o leme e girar a vela em direção ao destino final.
Hoje a esperança que se renovou no instante de sua decisão voltou a ser a mesma que o acompanhara nos últimos tempos de sua longa jornada. Porém, o velho corpo, os jovens olhos e o barco rumam ao encontro de seu destino oriental, infinitamente mais próximos do norte, para o qual todos os barcos rumam.
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