segunda-feira, novembro 24, 2014

Toulouse-Lautrec 150



Hoje, 24 de novembro de 2014, Toulouse-Lautrec comemora seus 150 anos.
Não foi apenas um patrono, mas um dos pais da economia artística, das artes gráficas e publicitária.
Mas reconhecer Toulouse-Lautrec apenas por isso é muito raso.

Que espírito tinha para representar a boemia de Paris, cheia de escárnio!

Seus personagens parecem rir e sentir pena de nós (observadores), tirando sarro bem na nossa cara.
Seus feios amantes e salientes prostitutas retrataram a realidade que não conseguimos ver.
Ver hoje.

Aqueles rabiscos em cartão são quase uma piada à realidade dos bares e prostíbulos da França do final do século XIX.
Os olhos tristes e tortos de homens e mulheres encerram o preconceito lá dentro, em nossa piedade.
E, sem percebermos, lá estão eles rindo de nós e da nossa piedade novamente.

Suas prostitutas são tão elegantes quanto suas damas. Por vezes mais.

Pudera eu ter o seu espírito nos dias de hoje para fazer um retrato tão digno e cômico dos nossos tempos.
E rir do mundo junto com Toulouse-Lautrec.
Um dos meus pintores favoritos? Sim. Um realista cômico-boêmio de botequim com alma de economista, certamente.

Não há máscaras na arte deste incrível pintor. Sua visão queria ser nossa realidade.
Aceitando bem o que tem; Querendo ser nosso mundo apenas quem é.
Pudéramos nós vivermos em um mundo desenhado por Toulouse-Lautrec.

Fica aqui minha homenagem ao homem que foi arte.

terça-feira, julho 01, 2014

A Lenda do Golem Josef de Praga

*Tradução

Sempre fui muito interessado em ficção científica, lendas, mitologias e, principalmente, nas suas origens. A lenda do Golem Josef talvez seja uma das mais importantes e menos conhecidas no ocidente. Trata-se de uma das primeiras aparições de um autômato na história e na estória da humanidade. Isto pode ser apontado também como um dos vetores importantes das moderníssimas histórias de robôs, extra terrestres e outras criaturas humanóides ou, ao menos, auto-suficientes. Na Lenda do Golem de Praga é possível encontrar diversas insinuações que, posteriormente, se tornaram um padrão para personagens monstruosos e robóticos e que vou discutir melhor como curiosidades ao final do texto.

Como nunca encontrei uma boa tradução da lenda - ou ao menos nunca uma tradução que trouxesse as diferentes versões da história! - decidi realizar eu mesmo uma tradução e incluir aqui todos os detalhes que já encontrei a respeito da lenda. Para não perder esta característica de levantamento histórico, inseri as diferentes versões dentro do mesmo texto. Aí cada leitor pode escolher a versão que achar mais interessante e contá-la ou trabalhar com ela como quiser.

Questão de crença

Existem muitas lendas sobre o Golem e outros autômatos, mas talvez a mais conhecida seja a lenda do Golem de Praga, uma narrativa que remonta ao século XVI e envolve o rabino Judah Löew ben Bezalel (1520-1609), o Maharal de Praga.

Essa história se passa à época do imperador da casa de Habsburgo, Rudolph II, que era tão fascinado pelos estudos arcanos que mudou residência para Praga, que era mundialmente conhecida à época - e ainda hoje! - como centro de estudos da magia negra, alquimia, astrologia, necromancia, cabalismo e outros campos do misticismo. Até mesmo Dr. Fausto foi reportado como tendo vivido em Praga.

O Golem é claramente uma das mais famosas "personalidades" que andaram pelas ruas de Praga. Porém, sua fama é a única coisa realmente clara a seu respeito. Sinceramente, sua existência é muito discutida e logicamente questionada. Ainda assim a lenda do Golem pertence à Praga e não seria o misticismo uma das coisas mais inerentes a esta cidade?



A Lenda do Golem

O respeitado Rabino Löew era conhecido como um dos portadores de poderes mágicos que combinavam os quatro elementos: fogo e água (na lenda, representados pelos seus assistentes), o ar (o próprio Rabino) e a terra (o Golem, feito do barro), que permitiam ao rabino vitalizar esculturas feitas de barro.

Na época, apesar de ser a época do império do iluminado Rudolph II, os judeus sofriam diversos ataques e retaliações anti-semitas. Para proteger o Quarteirão Judeu, o Rabino Löwe decidiu criar então o Golem Josef - também conhecido como Yossele - moldando a argila que ele buscava nas margens do rio Vltava e trazendo-a à vida através de rituais e encantos hebreus. O Golem teria os poderes necessário para cumprir a tarefa de proteger a comunidade.

Para ser um protetor ainda melhor, seu mestre lhe deu um colar especial feito de pele de cervo contendo runas e inscrições místicas. Com este ornamento o Golem se tornava invisível e até invocava espíritos dos mortos. E, por ser um trabalhador duro e eficiente, ele também ajudava o Rabino Löew a cuidar da sua casa, da sinagoga, limpava as ruas, carregava água e cortava lenha, por exemplo.

Você provavelmente já deve ter ouvido sobre os Golens como criaturas gigantes, amorfas e grotescas, que lembram apenas vagamente algo humanoide. Isso foi ainda reforçado pelo cinema, graças ao famoso filme checo sobre Rudolph II. Porém, de acordo com a lenda, Josef era, a primeira vista, idêntico a um homem qualquer. A única coisa que lhe faltava era a habilidade de falar.

Segundo versões da lenda, caso o Golem recebesse a dádiva da fala ele teria, então, uma alma. Por isso foi desprovido deste benefício.

Existia ainda um outro detalhe a respeito do Golem: Ele "vivia" somente se fosse colocada em sua boca (ou nuca, em outra versão) uma shem (cápsula ou placa) com inscrições mágicas que lhe davam a vida. Porém, aos sábados, esta cápsula precisava ser removida por causa do dia sagrado do Sabbath judeu. Então, nesse dia, o Golem descansava no sótão da sinagoga.

Assim se passou muito tempo, com o Golem defendendo o Quarteirão Judeu e executando muito bem os seus trabalhos diários com o Rabino Löew. Por ser feito de barro ele não tinha as necessidades de comer, beber, não reclamava de nada e era praticamente incansável para o trabalho. Era extremamente forte e destemido, então podia proteger como ninguém a comunidade.

Porém há o lado negro desta lenda. O Golem foi ficando cada vez mais e mais forte e, ao invés de heroico e útil, o ser veio a se tornar incontrolável e, dizem, até destrutivo.

Um dia o Golem foi avistado descontrolado, em fúria, arrancando árvores do chão. O Rabino Löew estava na sinagoga recitando o 'salmo noventa e dois' quando foi interrompido pelos cidadãos para ser avisado sobre o ataque do Golem. Ele saiu em disparada para remover a placa da vida de sua boca e, por este motivo, até hoje a sinagoga de Praga é a ÚNICA do mundo onde se repete o 'salmo noventa e dois' duas vezes, por conta dessa interrupção.

Na versão mais conhecida da lenda, o Rabino Löew esquece de retirar a cápsula da boca (ou nuca) do Golem numa sexta-feira à tarde e o ser, já extremamente forte, acorda no sábado, fica descontrolado e acaba por arrancar árvores do chão e destruir tudo em sua frente com muita violência, inclusive pessoas.

Noutra versão o Golem se apaixona pela filha do Rabino Löew, que o rejeita. Temendo por sua segurança, ele decide desativar o Golem, que se descontrola por causa da rejeição, pondo em risco a vida de sua família.

Em uma outra versão ainda, o Golem era tão efetivo defendendo o quarteirão judeu que reclamações chegaram até os ouvidos de Rudolph II. O Rabino Löew foi então convocado ao Palácio Real de Praga para uma audiência no meio da noite com o imperador. O propósito deste encontro nunca foi revelado - e ele realmente aconteceu! -, mas acredita-se que Rudolph II ofereceu ao Rabino Löew um acordo: Se o Golem fosse desativado permanentemente, o imperador garantiria a segurança contra qualquer ataque futuro ao quarteirão judeu. 

Em todos estes casos, a conclusão da lenda é a mesma:

O Rabino Löew consegue convencer o Golem a se acalmar e descansar no sótão da sinagoga, onde ele geralmente era desligado às sextas-feiras e, durante o sono do ser fantástico, o Rabino e seus assistentes conseguem remover a cápsula de sua boca (ou nuca). 

Noutra versão, eles conseguem desativar o Golem em frente à sinagoga, alterando a palavra "anmauth" (verdade), inscrita no shem, pela palavra "mauth" (morte), apenas apagando a sílaba "an". Com isso o Golem desmonta em frente à sinagoga e seu corpo é exilado no sótão do prédio. 

O corpo do Golem teria ficado no sótão para ser reativado caso necessário. Para garantir que ninguém mais o veria, a escada do sótão da sinagoga foi removida. Mas, temendo a curiosidade alheia, dizem ainda que depois de algum tempo de paz o Rabino Löew decidiu enterrar o Golem num túmulo no distrito Žižkov para sempre.

Este foi o fim do Golem, que nunca mais foi revitalizado.

Curiosidades sobre a lenda

Uma curiosidade é que até pouco tempo o sótão da sinagoga de Praga era proibido de ser acessado e, para garantir seu banimento e que ninguém o acessaria, a escada para o sótão foi removida da sinagoga por centenas de anos. Numa recente abertura por conta de uma restauração do prédio em 1883, não foi encontrado nada no famoso sótão. Há rumores de que o próprio rabino, temendo a curiosidade alheia, decidiu enterrar o corpo do Golem num túmulo no distrito Žižkov de Praga.

Outra curiosidade é sobre o encontro à meia-noite entre o Rabino Löew e o imperador Rudolph II. Ele realmente aconteceu, porém, historicamente, o encontro aconteceu por que o Rabino Löew descobriu que o imperador estava tendo um caso com a beata esposa do prefeito. Como já dito, não se sabe a verdade.

A história do Golem Josef de Praga é uma das mais conhecidas lendas e, supostamente, foi a inspiração para as histórias de robôs e rebeliões de autômatos que surgiram no futuro. Isto é reforçado pelo fato de que o termo "Robô" foi introduzido nas línguas do mundo em 1921 por dois irmãos checos, Joseph e Karel Capek (cha pek), que moravam em Praga. A distinção conceitual de "robôs" e as outras máquinas vêm da capacidade dos robôs de ajustarem suas ações em relação às circunstâncias.

Algumas lendas conhecidas também foram, supostamente, inspiradas no Golem de Praga: "Dr. Frankenstein e seu monstro" (que não tinha o poder da fala), "O Aprendiz de Feiticeiro", "O Corcunda de Notre Dame" (que se apaixona pela bela Esmeralda), O Hulk (que originalmente também é privado da fala e se descontrola) e até mesmo o robô HAL de "2001: Uma Odisseia no Espaço" (criado por humanos e perde o controle, subjugando-os).

*Tradução de Eilor Marigo

quarta-feira, maio 07, 2014

BRASIL, UMA REFLEXÃO PRESENTE



É incrível como o bem e o mal não fazem mais diferença. E isso só acontece a um povo quando não há mais esperança, quando ninguém mais acredita em mudanças.

Parece mais do mesmo nesta coluna do Jabor. Ao mesmo tempo é e não é. Ele não fala nada que já não saibamos, mas parece realmente que nada mais nos atinge, nos comove. 

A falta de liderança competente dos últimos anos nos deixou tão perdidos que continuamos flutuando na onda do progresso gerada no governo FHC... uma onda que percebemos, mas ainda não queremos acreditar, que já passou! Agora ficamos aqui, no marasmo, sem um qualquer vento que abane as velas do navio Brasil, que não anda.

O governo brinca, a iniciativa privada já baixou a guarda e nós, cidadãos, somos esculachados a cada dia por mais impropérios, mais impostos, mais promessas e mais pronunciamentos presidenciais que, SABEMOS, não são reais. Eles não nem enganam! Nem precisam se esforçar para isso. 

E por que não nos mexemos? Por que somos cachorro morto. Somos soldados famintos que preferiam combater de barrigas vazias ao invés de esperar a lenta morte, mas não enxergam a guerra... "Que se acelere a crise", pensamos em desespero nos ônibus lotados - como afirmou Jabor - mas a crise já está entre nós e não há energia para lutar. Minha geração não sabe nem mesmo pelo que ou como lutar!

E esse é o problema maior. A geração que hoje forma a força de trabalho, que vai suceder o poder político e privado, que está em vias de assumir o Brasil, já nasceu nesse marasmo. A guerra terminou quando ainda tínhamos 10 anos de idade. Não vivemos as crises, não sabemos pelo que lutar. Qual é a realidade que devemos buscar, não é essa mesmo de agora!? Ah, não sabia não... sei que chamam de alienação...

As pessoas sabem que não está bom, mas também não sabem "que bom é esse" que devemos buscar! Ou como.

E é nessas horas que algumas pessoas - assustadoramente! - olham para trás. Ditadura é um mal terrível. As pessoas pensam nisso não por que não lembram como ela funciona, mas por que esse marasmo é tão desesperador que a chance de ter algo contra o que lutar já parece sedutora. Fomos forjados para sermos soldados, mas não temos guerras.

Somos espartanos sem inimigos, ou pior, temos uma falsa paz que não satisfaz. Somos a cria perdida de toda uma história de luta; fortes, prontos, mas que não sabem onde acontece a batalha. É como se sente um garanhão logo após a castração, um galo de rinha nunca tirado da gaiola, etc.

Sempre tive e sempre terei esperança de mudança, mas vejo tantos que pensam de forma inconsequente: "que essas mudanças venham como vierem". Que as mudanças cheguem em batalhas se necessário, sejam elas nacionais, internacionais, políticas, ideológicas, físicas... ou todas juntas; numa guerra civil ou levante popular.

A gente quer algo melhor, claro, quem não quer algo melhor... mas o que é melhor?

Não sabemos. E, talvez ridiculamente, minha esperança está no fato de que ao menos sabemos que não sabemos.

E por isso mesmo é fácil enxergar, tanto na visão do cientista quanto na do experimento, ao menos uma coisa:

Dói não ter futuro, mas dói ainda mais não ter presente.